Acorda, ó Tu que dormes,
Que o novo Dia já vem.
Sorrateiro e repentino,
franja o Sol o alto do Monte.
As flores de um tempo-vida
ensaiam seu desbrochar.
A relva, tão doce e tenra,
já sorve o primeiro orvalho.
Decerto que ainda é noite:
mas sabes tu até quando?
E se o Rei, nascente e invicto,
cá tornar antes da Hora?
Ao vir, pois mui grande é a pressa,
não aguardará os que sonham.
Saudará os sentinelas
que guardaram-lhe o tesouro.
Comerá com os que, despertos,
prepararam-lhe o banquete.
Beijará as mãos calosas
dos que cultivaram a messe.
Cantará com as crianças
que lhe dedicaram hinos.
Curará os que, doentes,
procuraram-lhe o remédio.
Dará o seu Reino aos pobres
de ganância e de ambição
Dará consolo aos que choram
pelo que faz rir o Mundo
Dará toda a Terra aos mansos
baixado o clarim da Guerra
Saciará os já famintos
pelo manjar da Justiça
Mostrará aos de alma pura
a face de luz do Eterno
Misericordioso há
de ser com os que muito o são
Chamará Filhos do Pai
aos Pais e às Mães da paz.
Finda a Aurora, doravante,
não servirá despertar.
A manhã é dos que ajudaram
a Noite a regenerar-se.
Dormirão bem mais aqueles
deitados sobre o marfim.
Chorarão os sorridentes
habitantes da Taverna
Sem riso, seus pés descalços
andarão por outro chão.
Não será eterno o desterro:
porém, nem tampouco breve.
Tarde e noite - enormes, frias
saudades do globo azul.
Um longo o Dia no exílio
até um novo amanhecer.
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