Já não sou mais o mesmo de outrora:
alguma coisa mudou.
Não sei se há chuva à espreita no lá-fora,
ou se o tempo secou.
Faltam dados. Não sei se em mim brotou
algum não, algum sim.
Não suspeito como isto começou,
nem qual será o fim.
Enquanto isto, prossigo a investigar
isto a que chamam haver.
Sem certeza nenhuma a me aferrar
(ter certeza é morrer).
Dúbios, o mundo e eu entredançamos
esta valsa do Nada.
Valsa a que chamam Tempo ou Ser: dois amos
(alma: um duelo de espadas).
Mas, se tudo isto é incerto, como sei
que houve um mudar? E qual?
Temo então descobrir que continuei
modificado e igual.
Mudar é sempre algo que decorre:
nunca é, pois, algo dado.
Muda-se quando algo em nós desmorre:
futuro é não-passado.
Pensando nisto, miro-me no espelho:
ser inverso e não-eu.
O que ele mostra é o Mundo, é o sempre velho,
o que basta ou já deu.
O próprio Mundo é espelho, é projeção
do si e da consciência.
O real, portanto e então, é criação:
seja-o, pois, com excelência!
Já não mais me angustia ser diverso:
sou, do outrora, o serei.
E agora eu sei: mudou todo o Universo.
Mudou porque pensei.
Um comentário:
Estes versos encheram-me os olhos de lágrimas. Quão profundo pode ser o ser o o vir-a-ser? Lindíssimo, lindíssimo...
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