TERCEIRA
PARTE – COMPREENSÃO CORRETA
O Espírito
Tradicional
1, O mais
importante não é a compreensão profunda do budismo, mas a postura
correta e o respirar.
2, O budismo
é muito profundo, mas o zen não se preocupa com ele.
3, Importa
praticar, com a fé real de que somos a natureza do Buda.
4, No Zen,
não há uma longa preparação, mas a iluminação é súbita,
quando se pratica zazen.
5, Não
importa o estado atingido, mas a confiança em nossa natureza e a
sinceridade na prática.
6, Sair da
ideia egocentrica de atingir algo. Ser e transmitir o espírito
búdico.
7, A vida
budista não deve ser vida cármica.
8, O
propósito da prática é interromper o giro da mente cármica.
Querer isto já é carma.
9, Qualquer
prática com intenção de ganho é repetição do seu carma.
10, A
postura e a respiração não são meios para atingir estados, como
uma droga.
11, Elas são
o caminho. E quem vive o caminho e não a meta, já atingiu a
iluminação.
12, Se está
preso ao objetivo, sua mente de macaco não sabe o que está fazendo.
13, Está
tentando olhar para uma coisa com os olhos fechados.
14,
Bodhidharma entendeu que criar um ideal elevado e tentar atingi-lo é
ilusão.
15, Isto
pode parecer sublime, mas é a própria mente do macaco cotidiana.
16, Buda
continuou com seu carma depois da iluminação. Sofria, agia.
Continuou se esforçando.
17, Ele
observava a si mesmo e aos outros como observava uma planta ou
animal.
18, Com
nossa prática, quebramos a roda cármica e encontramos nosso lugar
verdadeiro no real.
Impermanência
1,
Impermanência é mudança. Tudo muda
2, [a
permanência é apenas uma provisória não mudança. Ou uma mudança
lenta, imperceptível]
3,
Impermanência é também inexistência de uma entidade universal.
4, [O todo é
mudança. A parte é não mudança. Mas a parte só é parte quando
participa. E participar é mudar. Uma parte separada está sempre de
partida. O todo é sempre partida]
5, Isto é
nirvana.
6, Por não
aceitar a impermanência é que sofremos.
7, A causa
do sofrimento é a não-aceitação da verdade.
8, Dogen:
ensinamento que não parece forçar alguma coisa em você não é
verdadeiro ensinamento.
9, O
ensinamento não força. É nossa natureza resistente que o recebe
como se fosse imposto.
10, Devemos
encontrar a existência perfeita na imperfeita, a perfeição na
imperfeição.
11, O eterno
existe por causa do impermanente. Não há nada fora deste mundo.
12, O prazer
não é diferente do sofrimento. O bom não difere do mau.
13 A
iluminação está na prática. Não adiante ou fora dela.
14,
Encontrar prazer na dor é a única forma de lidar com a verdade da
impermanência da vida.
15, Esse é
o esforço correto.
16, Enquanto
não formos fortes pra aceitar a dificuldade como prazer, estaremos
no esforço.
17, Quando
se sofre, há certo prazer em lembrar da impermanência. Por que não
tê-lo sempre?
18, É
preciso mudar, inclusive, a sua aceitação da verdade da
impermanência.
A qualidade
do Ser
1, O
propósito do zazen é atignir a liberdade do ser.
2, Cada ente
é uma centelha no mundo dos fenômenos.
3, A luz das
estrelas viaja a imensidão a velocidades extremas. Mas as estrelas
são tranquilas.
4,
Tranqulidade é atividade. E atividade é tranqulidade.
5,
Tranqulidade é harmonia em nosso ser. E atividade ágil também.
6, Quietude
e movimento. [mente e corpo]
7, A
quietude do zazen permite a imensa atividade do ser.
8, O mundo
lá fora não muda quando você está livre. Mas você percebe a
impermanência e a não conexão.
9, O eu de
ontem não é o de hoje. O carvão não se torna cinza. Cinza é
cinza. Tem seu próprio passado e futuro.
10, O
carvão, a brisa e a cinza são centelhas diferentes no mundo dos
fenômenos.
11, Somos o
mesmo ser. E somos diferentes. Esta é a liberdade do ser.
12, Mas,
embora diferentes, somos um com todos os fenômenos.
13, Quando
eu sento em zazen, todas as coisas sentam comigo. Tudo faz parte da
qualidade do meu ser.
14, Antes
que você pinte, o ser já está lá, o resultado.
15, Ainda
que sente sem fazer nada, todo o seu passado e presente, toda a sua
atividade está ali. Isto é o seu ser.
16, Dogen se
interessou pelo budismo menino, ao ver a fumaça de um incenso a
exalar ao lado de sua mãe morta.
17, Sentiu
grande solidão, e esta cresceu até que aos 28 anos ele afirmou ao
iluminar-se: não há corpo, não há mente.
18, Por
pensar que há mente e corpo, é que você se sente só.
19, Mas
quando entende que é apenas uma centelha na vastidão do universo,
seu ser se ilumina com a qualidade do ser de todas as coisas.
Naturalidade
1, Jinem ken
gedo: naturalidade herética. Deixar o policiamento de lado. Sem
formalidade.
2, Mas a
verdadeira naturalidade é estar independente de tudo. Atividade não
baseada em coisa alguma.
3, Para a
planta, ser natural não é um problema. Para nós, um trabalho.
4, É comer
quando se tem fome. Mas quando se tem expectativas demais, comer não
é algo natural.
5, O zazen é
sentar-se como quem bebe água quando tem sede.
6, Dormir a
sesta porque todos dormem não é naturalidade. Querer dinheiro
porque todos têm.
7, Se sua
mente está presa a alguma ideia, sua ou de outrem, você não é
independente, você não é você, você não é natural.
8, Shin ku
myo u: verdadeiro, vacuidade, maravilhoso, ser. Da verdadeira
vacuidade, emerge o ser maravilhoso.
9, Sem o
nada, não há naturalidade. O ser emerge do nada a cada momento.
10, Mas a
gente esquece do nada e se comporta como se possuísse algo.
11, Não ter
nada em sua mente, quando ouve ou age, é naturalidade.
12, Mas se
tem alguma ideia pra comparar com o que o outro diz, a compreensão é
parcial. Não há naturalidade.
13, Quando
se entrega pleno a uma tarefa, há naturalidade. Você não possui
nada.
14,
[Concluir á tarefa é esvaziar-se novamente. E devolvê-la ao nada]
15, Nyu nan
shin: sentimento suave, não rigidez, mente. Mente suave e flexível.
Vacuidade
1, Para
estudar budismo, abandone toda ideia de substancialidade ou
existência.
2, Para as
pessoas, tudo existe. Mas tudo existe e não existe.
3, A
existência verdadeira emerge da vacuidade e retorna a ela.
4, Só o que
emerge do vazio é verdadeira existência.
5, Devemos
atravessar o portal do vazio.
6, Enquanto
tivermos ideias preconcebidas ou expectativas do futuro, não podemos
levar em consideração o momento presente.
7, Quando
fazemos nosso caminho, ele expressa o caminho universal.
8, Quando
você compreende uma coisa em profundidade, compreende tudo.
9, Mas se
tenta entender tudo, não entende nada.
10, Por
isso, melhor é compreender a si mesmo.
11, Ao se
empenhar no seu caminho, você ajuda todos e é ajudado por todos.
12, Antes
disso, não pode ajudar ninguém e ninguém pode te ajudar.
13, Temos
que deixar sempre de lado tudo que temos em mente e aprender o novo a
cada momento.
14, Faça
uma faxina na mente. Tire tudo e limpe. Se necessário, recoloque no
lugar.
15, Passo a
passo faço cessar o som do riacho murmurante: isso é liberdade,
isso é renúncia.
16, Se posso
deter o fluxo dos pensamentos, posso apreciar o meu esforço.
17, Mas se
estou preso a ideias fixas ou habitos de fazer, não aprecio nada
verdadeiramente.
18, O
caminho não é sempre na mesma direção. Se posso ir pro leste,
posso ir pro oeste. Isto é sair da dualidade.
19, Não
posso buscar a liberdade. Sem liberdade não posso buscar. [E com
liberdade não preciso buscar].
20,
Concentração não é esforço para observar algo. Isto cansa logo.
É esforço dirigido ao nada.
Estar
alerta, estar consciente
1,
Compreender a verdade não dá a salvação. É a própria salvação.
2, A
iluminação não vem da prática. É a prática. E o que vem antes
dela também.
3, Quando é
você quem pratica, o zazen é outra coisa. Quando não é você, o
zazen simplesmente é.
4, Vacuidade
significa que tudo está sempre aqui.
5, Sabedoria
é prontidão da mente. Emerge da consciência.
Acreditando
no Nada
1, Acreditar
em algo sem forma, que existe antes de tudo.
2, Na busca
incessante por um ideal, não há tempo para a serenidade.
3, Aceitar
que tudo é, e emerge do nada, e retorna ao nada, é serenidade.
4, Isto não
é niilismo. Algo existe. E tem leis e e muda.
5, Quase
todos os nossos pensamentos são egocentrados.
6, Por isso
nos entediamos ao estudar ou ler sutras, mas estamos despertos ao
pensar em nós mesmos.
Apego e
não-apego
1, Dia e
noite não são diferentes. A mesma coisa ora é dia, ora é noite.
Eles são o mesmo.
2, Zazen e
atividade diária, idem.
3, Unicidade
e diversidade também.
4, Dogen:
muito embora tudo tenha a natureza de Buda, amamos as flores e
desprezamos as ervas daninhas.
5 Apegar-se
ao belo e repudiar o horrendo é atividade de Buda.
6, O apego
do Buda é não apego.
7, Aceitar o
ódio. O não apego.
8, Deve
haver ódio no amor, e amor no ódio. São uma coisa só. Aceitar as
flores e as ervas.
9, Não há
distinção entre o ignorante e o sábio
10, Não se
aprende o que não já se sabia.
11, Realçar
um dos aspectos com ideias egocentradas é a fonte dos problemas.
12,
Felicidade é infelicidade e infelicidade é felicidade
Quietude
1, No zazen,
você nada pensa ou sente. Mas a quietude dele irá encorajá-lo na
vida diária.
2, O valor
do zen está mais no dia a dia, o que não lhe diz pra negligenciar o
zazen.
3, O homem
comum reclama de tudo. Mas o estudante zen vê na erva daninha um
tesouro.
4, A vida se
torna uma arte.
5, Tentar
obter ou fazer algo no zen é dualismo. Não é quietude total.
6, O que é
mais importante: atingir a iluminação, ou atingir a iluminação
antes de atingi-la?
Experiência,
não filosofia
1, Não
devemos nos ocupar com o resultado do nosso esforço, mas com a fonte
de sua origem.
2, Se a
origem não é pura, ele é incorreto e o resultado não será bom.
3, Zazen é
retomar nossa forma pura de viver, nossa natureza original.
4, Sem ideia
de ganho e com a mais pura intenção
5, [A
intenção não é pura quando há uma segunda intenção. Quando há
uma segunda intenção, desaparece a primeira. A primeira é uma
aparência, e eu não estou intentando o que digo aos outros ou a mim
mesmo que estou intentando].
6, Não é
preciso entender. Quando fazemos de forma pura, sequer sabemos o que
estamos fazendo.
Budismo
original
1, O zazen
não é as quatro atividades do Buda: inclui todas as atividades
2, O budismo
não é um ensinamento de Buda. É a Verdade anterior a ele e que
inclui todas as verdades.
3, O modo
como sentamos é o modo como agimos.
4, O
ensinamento está em todo momento
5, Não
devemos fazer isto ou aquilo. Devemos ser o Buda, e tudo ser a
atividade do Buda.
Além da
Consciência
1, Ter boas
coisas na mente nem sempre é bom. Pode ser uma carga.
2, O
importante é se você consegue criar a paz a manter. Mesmo não
seguindo o Buda à risca.
3, Quem tem
algo em mente, não está sereno.
4, Nem tente
parar a mente durante a prática. Deixe tudo como está.
5, Apenas
mantenha convicção firme na vacuidade e impermanência. Vai passar.
6, O vazio
da mente nem é um estado da mente, mas a essência da mente
original.
7, Natureza
do buda, vacuidade, tudo isto significa quietude da mente.
8, Dogen:
baseie sua prática na sua ilusão
Iluminação
do Buda
1, Nem se
orgulhar de suas conquistas, nem desanimar por conta de um esforço
idealista.
Epílogo –
Mente zen
1,
Bodhidarma: se você quer ver o peixe, tem que observar a água.
2, Se as
regras forem muito estritas, você falhará. Se muito frouxas, não
funcionarão.
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