Oração da Humildade



Ensina-me, Senhor, os caminhos da humildade
Eu preciso aprender a tirar os sapatos
A colocar os pés no chão
Para andar devagar e sentir
A aspereza do solo
O calor do asfalto
Os pedregulhos e os espinhos
E saber-me assim frágil diante deles.
Que eu possa compreender, ó Pai,
Quão tenro é o meu estar no mundo:
simples haste que a brisa pode arrebentar.
Que eu saiba respeitar cada ser que tu puseres à minha frente
Como criatura Tua
Como ente com o mesmo direito de existir que eu
Como obra Tua a merecer cuidado.
Que eu aprenda a lição das pedras
As quais, calcadas no caminho,
Sustentam nosso passo
E nos fazem seguir adiante
A lição do chão firme e batido nas estradas poeirentas
Que fica, silente, enquanto nós passamos.
Que eu saiba ficar quando o momento for de permanecer
Que eu saiba partir quando for exigido
Que eu saiba dar a cada passo o seu valor devido
Que eu perceba quão pequena é a minha condição de caminhar.
E que, sabendo disto tudo, eu nunca pare de avançar
Não por imaginar que mereça ir muito longe
E sim por saber-me atrasado, longínquo, distante de Ti e do Bem
Que eu saiba entender o caminhar do outro
Mesmo quando ele pareça lento, pareça estagnado,
Ou mesmo quando pareça andar pra trás
Que saberei eu do passo alheio?
Talvez ele tenha corrido durante a madrugada,
E agora descanse desacelerando
Quem sabe ele esteja aquecendo
Para uma mais firme andada logo à frente
E que eu, que pareço sempre aos meus olhos estar andando muito,
Talvez esteja apressando o passo, antecipando o cansaço
Para logo sentar-me abatido à margem da estrada
Suplicante por um copo dágua
À mercê da caridade doutros caminhantes
Os quais, recusando-se a julgar o andar do irmão,
E renunciando a um mais breve adiantar-se,
Certamente pararão pra me ajudar.
Que eu possa preparar-me para ser um deles.
E que um dia, Senhor, eu possa entender a Tua Humildade
Tu, cuja Potência Suprema, acaso manifesta,
Aniquilaria o Mundo.
Tu, cujo amoroso retrair-Se permite-nos o existir.
Tu, que te ocultas em todas as coisas
Como chão a nossos pés, luz a nossos olhos, Mundo a nosso Eu
E que, como Espírito, te escondes em nossa Alma
Para que possamos Ser
E aprendermos a Amar.

Nenhum comentário: