Ensina-me

Ensina-me, ó Mestre, a andar
pelos mais ínvios caminhos
por onde só passam os tristes
que, neste exílio, outro exílio
mais severo e alheio vivem
com seus trajes (mero ultraje
que insulta a total nudez).

Ensina-me o passo lento
de quem não sabe correr
rumo às coisas do mundo:
o passo lento daquele
que já tem olhos de ver
que não é lá a Meta, é aqui
mais além de todo além
giro infinito do Mundo
fim que se tornou Princípio
feito carne e feito gente
bem aqui do nosso lado
e que Tu chamaste: o Próximo.

Ensina-me a andar à Noite
na noite escura da alma
criança que ainda durmo
de luz acesa porque
os monstros que fabriquei
são a minha consciência
pesada como a barriga.

Diz mamãe que o pesadelo
vem porque comi demais
e logo me fui deitar.
Talvez se houvesse comido
um pouco menos e andado
à volta do quarteirão
e tivesse repartido
com aquele mendigo-Cristo
(Tu em outrem disfarçado)
minhalma talvez voasse
para o céu azul do Astral.

Ensina-me a parar também
e aprender a respirar:
que a cada passo-trabalho
haja um respiro-oração
Agir pois, com força e corpo
mas também com fé e alma.

Ensina-me a deixar a trilha
rotineira aonde passo
todo dia, passando a vida
sem sair, pois, do lugar.
Ensina-me ora a trocar
o velho caminho de casa
pela casa do caminho
na qual Tu me ainda aguardas.

Ensina-me, enfim, a voltar,
ó Mestre:
a voltar do Mundo.

Thiago El-Chami

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