Os Padres do Deserto, a hamartía e os nove vícios fundamentais

Os Padres do Deserto, a hamartía e os nove vícios fundamentais

Os primeiros ascetas cristãos, conhecidos como os Padres do Deserto, aprofundaram bastante a reflexão acerca daquilo que viria a ser conhecido como o conjunto dos ''sete pecados capitais''. No entanto, havia diferenças entre o que foi pensado e vivenciado por eles e que depois consolidou-se neste importante tema da teologia católica medieval.

Em primeiro lugar, eles consideravam estes vícios não como pecados (no sentido de máculas, de manchas morais ou nódoas da alma), mas como falhas em uma analogia bem física. Eles retomam o conceito grego de hamartía, presente na tragédia ática, no qual o herói sucumbe a um destino fatal por uma imperícia ou imprevisão.

Há, porém, uma diferença. Na falha trágica, o herói às vezes sucumbe por sua própria qualidade, como, por exemplo, uma coragem fora de hora, ou um não saber o momento de frear o ímpeto. Em todo caso, a hamartía grega sempre se dá numa perspectiva de grande escala, no meio de uma grande empreitada.

No entanto, os Padres pensavam a hamartía mas próximos da ação individual, da escala micro, bem mais na vizinhança do sentido da palavra, que remete à situação de errar o alvo no disparo de uma flecha. Não era nem a falha heróica da antiguidade grega e nem o pecado escatológico medieval.

Outra coisa importante. Na sua enumeração dos vícios humanos, eles listavam nove e não sete espécies: além dos sete vícios capitais da teologia posterior (orgulho, inveja, preguiça, gula, avareza, raiva, luxúria), eis que também constavam o medo e a vaidade.

Nesta visão, porém, o mais importante era trabalhar as falhas e eliminá-las, pois elas eram vistas como obstáculos para o encontro com Deus. Demorará ainda algum tempo para se perceber que os nove vícios também correspondem a nove personalidades básicas, cada qual com suas potencialidades únicas e com sua específica missão no mundo.

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