Mente Zen, Mente de Principiante - Parte II - Atitude Correta


Segunda Parte - Atitude Correta

O Caminho-Uno

1, Qualquer coisa que se faça é incomum, pois a vida é incomum.
2, Dar-se tempo para fazer as coisas sem expectativa, p ex, cozinhar, é zazen.
3, O Caminho do Bodishattva é o caminho-uno, uma trilha com milhares de km.
4, Mesmo que o sol nascesse no Ocidente, seu caminho não muda.
5, Seu Caminho é expressar a sua verdadeira natureza
6, Sem começo, sem fim. Nem mesmo trilho. Nada a ser alcançado.
7, Se fica curioso acerca do trilho, há perigo. Olhar pra ele é ficar tonto.
8, Qual é o segredo do Bodishattva ser sempre o mesmo. Não há segredo. Também o somos.
9, Após a palestra, não é preciso lembrar o que foi dito, nem entender o que foi dito. O ouvinte já tem todo o entendimento dentro de si. Não há problema.

Repetição

1, Ascetismo: mortificar o corpo para libertar o espírito
2, Para descobrir como o homem comum se torna iluminado, como a farinha vira pão. Buda repetiu inumeráveis vezes.
3, A repetição é tediosa quando sem força e espírito de vitalidade.
4, Buda não se preocupava com explicações metafísicas. Um sábio é o que é. Iluminação é iluminação.
5, A prática não pode se tornar demasiado idealista. Um artista idealista suicida, pelo abismo entre o ideal e sua real habilidade.
6, Devemos ter certo idealismo – querer fazer pães bonitos e saborosos.
7, A prática é descobrir como se tornar pão.
8, Fazer zazen e colocar-se no fogo é o caminho.

Zen e Empolgação

1, É necessário seguir a via constante.
2, As dificuldades nos tiram da prática serena e calma, mas não parte da prática.
3, O zen não é empolgação, e sim concentração em nossa rotina diária.
4, Se você fica muito ocupado e agitado, sua mente se torna grosseira e instável.
5, Ficar interessado em situações excitantes e na mudança constante nos agita e perde.
6, Quem começa a praticar zen por curiosidade, apenas fica mais ocupado ainda.
7, É ridículo sua prática fazer com que você fique pior.
8, Os jovens tentam largar as atividades e ir pra montanha. Este não é o real interesse.
9, Zazen uma vez por semana já o tornará suficientemente ocupado.
10, Não se interesse demais pelo Zen
11, Continue a prática de forma calma e regular e seu caráter estará sendo construído.
12, Se sua mente estiver sempre ocupada, não terá tempo para essa criação, e seu esforço será estéril.
13, Como a massa, misture aos poucos os ingredientes. Você sabe sua temperatura adequada.
14, Não se trata de realização gradual. Praticar com calma e constância na vida diária já é a iluminação.

Esforço Correto

1, O esforço deve ser dirigido do resultado para o não resultado.
2, Libertar-se dos resultados desnecessários e maus do esforço
3, Se você faz com espírito de não resultado, há qualidade no que faz.
4, O simples fazer sem esforço é o ideal.
5, Mesmo que não faça nada, você tem a qualidade do zazen. Se tentar obter, não a terá.
6, O som está na mão antes da palma. Existe antes de ser produzido. É produzido porque já é.
7, A dificuldade ou esforço sem medo é o esforço correto.

Sem deixar rastros

1, As ideias são sombras que se projetam sobre as ações.
2, Há não só as sombras das ações em execução no momento, mas infindáveis outras.
3, Quando agimos sem ideias e sombras, a mente é clara e livre e a ação vigorosa.
4, A mente confusa e relativa estabelece a si mesma limitando-se diante das coisas, criando ideias.
5, Ela cria ideias de ganho e deixa rastros.
6, E se apega aos rastros. Que não correspondem ao que realmente foi feito.
7, Rastros são ideais autocentradas. Egoístas.
8, Quem se orgulha do que fez, cria problemas pra si. Distorce mais e mais a personalidade.
9, Lembrar do que fizemos, mas sem apego. Sem rastros.
10, Para não deixar rastros, fazer a coisa com todo o corpo e mente. Concentrado.
11, Como uma boa fogueira que se consome. E não como a que só faz fumaça.
12, No Zen, se é uno com ele. Na reverência, não há buda nem eu, há só a reverência plena. E isto é nirvana.
13, A flor que Buda deu a Maha Kashyapa. É a verdadeira atividade, que abarca tudo. Sem rastros.
14, Em vez de criticar sua cultura, pratique o zen e renove a sua cultura.
15, Quem critica muito está apegado ao que critica.
16, Algo pode ser simples, mas se não se sabe o valor disto, é mesmo que não saber.
17, Não é preciso ir em busca de algo belo ou bom. A verdade está sempre ao alcance da mão.

O Dar de Deus

1, Tudo que existe é algo que nos foi e está sendo dado. Ao mesmo tempo, estamos dando tudo. Pois tudo é um.
2, Sempre estamos criando algo. Mas este eu que cria é o grande Eu. Uno a tudo.
3, Seis modalidades do verdadeiro viver
A, Dana prajna paramita: Dar, sabedoria, atravessar a outra margem do rio
a,1 Alcançar o nirvana
B, Sila prajna paramita: os preceitos budistas
C, Kshanti prajna paramita: perseverança
D, Virya prajna paramita: vigor e esforço constantes
E, dhyana prajna paramita: a prática do zen
F, Prajna paramita: a sabedoria.
4, Dar é não apego.
5, Com o espírito correto, tudo que fazemos ou criamos é dana prajna paramita
6, Dar um ensinamento, uma coisa, uma obra, uma oferenda qualquer.
7, Criar com o grande eu é dar. Pois quem cria é Deus.
8, Não criamos nem possuímos o que se cria por nosso intermédio.
9, Não se apegar ao valor de troca da coisa. Insignificante diante do valor absoluto.
10, Mesmo coisa sem valor de troca tem valor absoluto. Não estar apegado é estar consciente deste.
11, Tudo que se faz sem consciência de valor material egocentrada é dana prajna paramita.
12, Três modos de criação
12,1 Retornar do zazen, onde não somos. Voltamos a existir, junto com todas as coisas.
12,2 Produzir algo
12,3 Criar algo em nós mesmos como arte, cultura, educação
13, Mas se esquecer o primeiro, os outros dois serão como crianças orfãs – sem rumo.
14, Esquecer do zazen é esquecer de Deus. Não se dar conta de quem Ele é. Como criar assim?
15, Esquecer da fonte de nossa criatividade é ficar como órfão.
16, Viver é criar problemas, desde quando nascemos.
17, Mas quem cria com o grande eu, quem doa, não cria problemas nem pra si nem pros outros.
18, Devemos esquecer o que fizemos: este é o verdadeiro não-apego.
19, Lembrar e levar em consideração quando preciso, mas sem apego.
20, Agir no presente é trabalhar em algo novo. Isto é criar. É dana prajna paramita.
21, Fazer algo é assumir nossa atividade criadora. A partir do sentar-se em zazen.

Erros na Prática.

1, No começo do zazen, tende-se a idealizar modelo e meta.
2, No momento em que alcançar sua ideia de ganho, se criará outra.
3, Pior ainda é praticar competindo com outrem.
4, No Soto Zen, shikan taza, simplesmente sentar-se.
5, O tédio é um sinal. Você desanima com sua prática quando ela é idealista.
6, Quando sua prática é ambiciosa, você desanima com ela.
7, Deixando pra trás o erro e renovando o caminho, pode se retomar a prática original.
8. Perseverar sozinho na prática desencoraja, por isso é bom um mestre.
9, Outro engano é pratica pelo prazer que proporciona.
10, Os quatro graus da prática no budismo Hinayana
10,1 Prática sem qualquer alegria, nem espiritual. Simplesmente praticar, esquecendo a si e à prática
10,2, Ter prazer físico na prática.
10,3 Prazer físico e mental, bem-estar
10,4 Não ter nem pensamento nem curiosidade na prática.
11, Quando há dificuldades na prática, há alguma ideia errada sobre ela
11,1 Mas não abandone. Continue, ciente de sua fragilidade. Sem ideia de ganho.
12, Mesmo na prática errada, se tomar consciência e perseverar, será a prática correta.
13, O próprio cansar-se da prática é um estímulo. Tome como sinal, como a dor de dentes que leva ao dentista.
14, Ichygio zammai (samadhi da ação única, em japonês): ao prostar, prostrar-se, ao comer, comer.

Limitando sua Atividade

1, Não há propósito específico nem objeto de devoção.
2, Joshu: um Buda de barro não atravessa a água.
3, Restringir a atividade, concentrando-se no que está fazendo no momento.
4, A mente deixa de vagar noutros lugares, e você pode expressar a si próprio.

Estudando a si mesmo

1, O propósito de estudar o budismo não é estudar o budismo, é estudar a si mesmo.
2, Mas o ensinamento não é você: é um meio para chegar a conhecer você.
3, É preciso deixar o mestre, tornar-se independente.
4, Rinzai: os 4 modos de instruir o estudante
4,1 Falar acerca dele
4,2 Falar acerca do ensinamento
4,3 Explanação sobre um ou outro
4,4 Não dar instrução alguma
5, Quando o mestre não diz nada e você senta em zazen, isto é o ensino sem ensino.
6, O estudo é parte da vida diária. Encontrar o sentido da vida é encontrar o do cotidiano.
7, Simplesmente fazer o que tinha de ser feito
8, O monge acha a vida dele comum. As pessoas da cidade é que são diferentes.
9, Mas são as pessoas que vivem fora do mosteiro que sentem sua atmosfera. Ou o monge quando sai e retorna adiante.
10, Quem está praticando, nada sente.
11, Por isso, ter sentimentos sobre o budismo não importa. Ele não é bom nem mau.
12, Um pouco de estímulo é necessário, mas é apenas estímulo. Não é o propósito. É um remédio.
13, O ensino perfeito nada diz sobre o estudante nem lhe dá estímulos.
14, Nós mesmos somos a grande atividade.
15, Mas não há necessidade de falar disso, de falar de nós.
16, Falar de nós mesmos, portanto, é esquecer de nós mesmos.

Polir uma telha

1, Uma rã se senta como o monge, mas não pensa que está fazendo algo especial.
2, Como polir uma telha até virar uma jóia? Não há zazen fora da atividade cotidiana.
3, Dogen: quando Bashô se torna Bashô, o Zen se torna Zen.
4, Quando você se torna você, zazen se torna zazen.
5, Se você está aí, a dificuldade não é problema. Você senta nela, ela se torna parte de você e vice-versa. Não há problema.
6, Mas quando você se perde, surge o problema.
7, Quando você pratica zazen, seu problema está praticando também.
8, Quando você faz parte do seu ambiente, é zazen. Quando você divaga na ilusão, ele some e sua mente também.
9, Polir a telha sim, mas não para fazê-la outra coisa.
10, O outono chega antes do verão acabar.
11, Não é importante saber se é possível atingir o estado de Buda.
12, E nem isto deve ser uma meta.
13, Em vez de acumular conhecimentos, aclarar sua mente. E todo conhecimento será seu.
14, Vacuidade, poder pleno, saber pleno.
15, Se você aceita as coisas como são, acolherá as coisas como velhas amigas, mas com um novo sentimento.
16, Temos de estar livres do nosso conhecimento
17, Nin: não é paciência, que pode esconder não-aceitação. É mais para constância.

Comunicação

1, Falar diretamente e com clareza. Ouvir sem ideias preconcebidas. Aceitar as coisas como são.
2, É difícil haver boa comunicação entre pais e filhos, pois os pais possuem intenções, mesmo boas.
3, Uma mente cheia de ideias preconcebidas, intenções e hábitos não pode ver as coisas como elas são.
4, Mas o modo zen de comunicar-se envolve essencialmente sentar-se em zazen em silêncio


Negativo e Positivo

1, Quanto mais compreendemos o caminho, mais difícil fica falar sobre ele.
2, O melhor é simplesmente praticar sem dizer nada.
3, O caminho tem um lado negativo e um positivo. Não dá pra falar dos dois ao mesmo tempo. Por isto os mal entendidos.
4, Na comunicação perfeita, difícil de alcançar, falar é uma prática e ouvir também.
5, O Soto tem prática Hinayana (rígida e formal), com mente Mahayana (informal). Junta algo dos dois caminhos do budismo.
6, Dentro da prática, não há formalidade nem informalidade.
7, Quando você faz tudo com a mente grande, sem julgar se é bom ou mau, com a mente e o corpo, então esse é o caminho.
8, Dogen: se uma pessoa discorda do que você diz, apenas escute as objeções, até que a pessoa encontre algo errado nelas.
9, Ou seja, reflita com a pessoa.
10, Não tente ganhar a discussão. Nem se comporte como se a houvesse perdido.
11, Não há propósito especial no falar e ouvir. Às vezes, se fala, ou se ouve. Eis tudo.
12, A mente grande é algo que se expressa, não que se decifra. É algo que se tem, não que se busca.

Nirvana, a queda dágua

1, Quando Dogen buscava água, voltava só com metade do balde, devolvia a metade ao rio.
2, Isso é respeito pela água. É ser um com a água. Não se trata de economia.
3, Enquanto rio, a água não tem nenhuma sensação. Cai sem dificuldade. Mas pra cada gota é muito difícil uma queda tão grande. E ela tem a sensação da dificuldade.
4, Quando se nasce, se separa do todo. Se passa a ter sentimentos. Você tem dificuldades porque tem sentimentos.
5, Quando não percebe que é um com o Universo, tem medo.
6, Dividida ou não, a água é água. Vida e morte são uma mesma coisa.
7, Se não tememos mais a morte, desaparecem os problemas da vida.
8, Nirvana é o morrer neste sentido. Integrar-se ao rio. Prosseguir uno com ele.
9, Quando vemos que tudo é vacuidade, encontramos o sentido da vida. A beleza da vida.
10, Com a mente pequena, oraignoramos, ora subestimamos, ora superestimamos a beleza das coisas.





Nenhum comentário: