Acorda, ó tu que dormes!

Acorda, ó Tu que dormes,
Que o novo Dia já vem.

Sorrateiro e repentino,
tinge o Sol o alto do Monte.

As flores de um tempo-vida
ensaiam desabrochar.

A relva, tão doce e tenra,
já sorve o primeiro orvalho.

Decerto que ainda é noite:
mas sabes tu até quando?

E se o Rei, nascente e invicto,
cá tornar antes da Hora?

Ao vir, pois mui grande é a pressa,
não aguardará os que sonham.

Saudará os sentinelas
que guardaram-lhe o tesouro.

Comerá com os que, despertos,
prepararam-lhe o banquete.

Beijará as mãos calosas
dos que cultivaram a messe.

Cantará com as crianças
que lhe dedicaram hinos.

Curará os que, doentes,
procuraram-lhe o remédio.

Dará o seu Reino aos pobres
de ganância e de ambição

Dará consolo aos que choram
junto ao que faz rir o Mundo

Dará toda a Terra aos mansos
baixado o clarim da Guerra

Saciará os já famintos
pelo manjar da Justiça

Mostrará aos de alma pura
a face de luz do Eterno

Misericordioso há
de ser com os que muito o são

Chamará Filhos do Pai
aos Pais e às Mães da paz.

Finda a Aurora, doravante,
não servirá despertar.

A Manhã é dos que ajudam
a Noite a regenerar-se.

Dormirão bem mais aqueles
deitados sobre o marfim.

Chorarão os sorridentes
habitantes da Taverna

Sem riso, seus pés descalços
andarão por outro chão.

Não será eterno o desterro:
porém, nem tampouco breve.

Tarde e Noite - enormes, frias
saudades do globo azul.

Um longo Dia no exílio
até um novo amanhecer.

Thiago El-Chami

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