A pérola e a cruz

"Não dês coisa santa aos cães,
Nem dês pérolas aos porcos"

Se tens mui justas razões,
evita os caminhos tortos.

Não macules tuas manhãs
com a sombra dos dias mortos.

Conduta e palavra sãs:
não sê louco a imprecar loucos!

Cristo farsante, Satã
Nos demais nos faz ver Mouros.

Se a Cruz vive em teus afãs,
Serve-a: o inverso é desdouro.

Servir-se dela é amanhã
repetir Roma de novo:

É crucificar quem não
serve ao teu lema ou tesouro.

Do não-cristão, ela é irmã:
sempre dará voz aos roucos.

Mas, se feita Espada, é mãe
de ouvidos pra sempre moucos.

Deitada, é Cruzada, é vã:
É Cruz-Espada, é sufoco.

Alçada, é Inquisição:
diabólico Ofício in loco.

Ao Cristo, a blasfêmia chã
não ofende nem um pouco.

Seu Amor puro é Perdão:
sequer condena, tampouco.

Mas a inclemência malsã
é um romano a dar-lhe soco.

Pai-nosso ao avesso, é mão
que ofende o ofensor, dá troco.

Descaridosa punção,
de novo o sangra no Horto.

Ceia profana, que o pão
Não reparte: atira ao forno.

Cruz, Arco-íris, Islão
Podem andar um com o outro.

Basta, para tal, que não
se enfrentem, a ferro e fogo.

Cristo é a pérola louçã:
não atirá-lo inda é pouco.

Há que escapar ao vil clã
dos que o pisam o tempo todo.

Imita-o, de alma sã.
Acolhe-o, com mente e corpo.

Nem lançá-lo, pois, aos cães
Nem pisá-lo como os porcos.

Thiago El-Chami

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