A Totalidade Articulada: os quatro Elementos na tradição ocultista
No estudo de quase todos os temas da espiritualidade ocidental, e em boa
parte dos assuntos relacionados à espiritualidade oriental, eis que um tema se
destaca: o estudo dos elementos, dos componentes radicais do Real.
A um primeiro olhar, parece, ao leitor cientificista hodierno, se tratar
de uma espécie de proto-física primitiva, de um arcaísmo filosófico ou de uma
explicação semi-mitológica da Natureza ou do Cosmo.
Contudo, por trás daquilo que se convencionou nomear por Terra, Fogo, Ar
e Água, se esconde toda uma ontologia sistêmica e uma metafísica pluralista do
real, na qual o Ser se manifesta em diferentes planos ou dimensões da
realidade, que se interpenetram, comunicam e se influenciam mutuamente.
Noutra perspectiva, ainda mais importante, os elementos são vislumbrados
como diferentes aspectos do homem - evidentemente, correspondentes à sua
presença em cada uma das dimensões, mas que podem ser compreendidos em si
mesmos, sem o necessário recurso ao estudo minucioso destas.
Assim, por Terra, se entenda o Plano Material, associados aos arquétipos
de Gaia, bem como o Corpo Físico do Homem, donde as ideias de Ventre e Mãe, e
as associações com o Morrer e Renaescer
O Fogo, por sua vez, está associado à dimensão do Espírito, associada
arquetipicamente ao Pai Celeste, ao Céu, Trazido ao encontro com a terra. Fogo
de Prometeu.
O Ar, por sua vez, representa o Dimensão Racional ou Intelectual, estando
ligado ao simbolismo das Folhas e das Espadas, e no Homem ao Conhecimento e à
Palavra.
Por fim, a Água representa a dimensão Emocional, como Oceano Primaz de
todos os Instintos e Forças Moventes da Natureza, representado por itens como o
Calice e por todos as divindades marítimas e fluviais.
Os quatro elementos, que constituem a articulação orgânica da Unidade,
derivam da Dualidade Fundamental. Fogo e Terra correspondem, respectivamente,
ao Yang e o Yin em estado puro (ou grande Yang e grande Yin).
Já o Ar e a Água constituem elementos intermediários, denominados
respectivamente Pequeno Yang e Pequeno Yin.
Os antigos desenvolveram toda uma série de características diferenciais
dos elementos, que servem para demarcar suas propriedades e relações.
O Grande Yang, o Fogo, representa Espírito, Alma, Vontade. É Quente e
Seco. Corresponde ao temperamento colérico.
O Grande Yin representa a Terra. É Frio e Seco. Corresponde ao
temperamento Melancólico. Diz respeito à Matéria.
O Pequeno Yang, a Razão. Ar, quente e úmido, relativo ao temperamento sanguíneo,
mente voltada para o material.
Por fim, o Pequeno Yin – Água, Emocional, temperamento Fleumático, Mente
voltada para o espiritual.
Aristóteles, ecoando uma tradição antiquíssima, ainda nomeia o Éter, um
quinto elemento ou quinta essência, que diria respeito a realidades
supra-humanas, divinas, à dimensão da Eternidade. Silenciado, porém, nas
caracteriologias básicas.
Modernamente, Carl Jung associou os quatro elementos a arquétipos
fundamentais descritivos de suas 4 Funções Psicológicas e dos seus 4 Tipos
Psicológicos.
Assim, as Funções Pensamento-Ar e Sentimento-Água constituiriam modos de
decidir
Por sua vez, Sensação-Terra e Intuição-Fogo indicariam modos de aprender
O Tipo AR pensamento – tende a tomar decisões objetivas e lógicas.
O Tipo Água – tende a tomar decisões sob orientação de valores
O Tipo Terra – tende à viver com base na sensação concreta. Presente,
agora.
Tipo Fogo – Intuição – tende a viver com base no imaterial, na
Abstração. Passado e Futuro.
Uma dúvida poderia ocorrer aos estudiosos da espiritualidade Oriental: lá haveria cinco elementos e não quatro, expressos nos símbolos Terra, Fogo, Madeira, Metal e Água. Porém, tais símbolos lá não representam os constituintes da realidade, mas os padrões básicos de transformação. Tanto é assim que eles são associados aos cinco planetas básicos (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno). São, portanto, mutações e não elementos. Assunto para um outro estudo.
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