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Realização na Realização - Realeza na Realeza Sefirat ha'Omer Semana 7 Dia 7: Malkuth de Malkuth
Realização na RealizaçãoRealeza na Realeza
Sefirat ha'Omer
Semana 7 Dia 7: Malkuth de Malkuth
Tudo chega ao fim.
Até o que não se completa.
Pela Lei da Entropia, tudo, no Cosmo, findará.
A energia útil, em um sistema fechado, diminui com o tempo.
E energia é a capacidade de realizar trabalho.
Logo, o Cosmo também cessará.
Mas esta é só a forma triste de encarar.
Afinal, se a energia útil diminui, é porque foi utilizada.
Se a possibilidade de trabalho se encerra, o trabalho está feito.
Fim não é só esgotamento.
É também propósito, destino. Cumprimento.
Aristóteles dizia:
O Kosmós tende ao repouso como fim, porque a quietude é Deus.
Tudo que se move, busca um fim.
E, quando atinge a perfeição, pára.
Perfeição, enteléquia em grego, é aquilo que tem o Fim (telos) dentro de si.
Pense numa gestante.
A vida gestante está completa.
Não falta nem sobra nada (biologicamente).
Somos perfeitos a nosso modo no que estamos grávidos.
Per-feito é o que está mais que feito: finalizado.
Quem alcança a entelekia, alcança a eudaimonia (felicidade, realização).
Realizar traz realização. E isto não é uma redundância.
Você se realiza no que realiza?
Realizar, tornar real. Em grego: energeia.
Sim, é de energia que falei o tempo todo.
Energeia é a capacidade para o ergon: o trabalho, a realização.
Realizar é ergon-ômico!
Perfeição é outro nome para Realidade
O que não pode ser diferente do que é
O que é como é
Realidade na Realidade
Não por acaso, o adjetivo 'real' define o que é da Realeza.
Reinar em sua Vida é fazer da sua Vida Realidade Plena.
Reinar é apresentar ao mundo a sua coroa, e usá-la.
Erguer a sua taça.
Só você sabe do que ela é feita.
Realeza na Realeza.
Energeia e Entelekia.
Malkuth de Malkuht.
Realização na Realização.
Assim o ergon (trabalho) chega ao telos (fim).
Entropia? Não, eudaimonia!
Não é morte, é descanso.
O Repouso é uma vibração feliz.
Assim termina minha jornada pelos 49 dias da Criação
No 7° dia da 7ª Semana, Deus em mim (final-mente) pode descansar.
E eu também, com Deus (o Fim) dentro de mim.
Kodoish, Kodoish, Kodoish
Adonai Tsebaioth!
Está feito Está feito Está feito.
Shalom!
Thiago El-Chami
Fundamento na Realização - Sefirat ha'Omer Semana 7 Dia 6 - Yesod de Malkuth
Fundamento na Realização
Sefirat ha'Omer
Semana 7 Dia 6 - Yesod de Malkuth
"Quem ouve a Sabedoria e a pratica
é como quem constrói a casa sobre a Rocha:
Cai a chuva, transbordam os rios, sopram os ventos,
mas deram contra ela, pois seu alicerce
foi erguido sobre a pedra".
Quem age com Sabedoria realiza a sua Vida (Malkuth)
Sobre alicerces (Yesod).
Alicerces não são a única imagem pela qual
podemos compreender o Fundamento.
Nossos pés são fundamento da nossa firmeza.
Nossas pernas são fundamento dos nossos passos.
Nossa coluna é fundamento da nossa verticalidade.
Nosso pescoço é fundamento da nossa dignidade.
Nossas mãos são fundamento da nossa ação.
Todo o nosso organismo biológico é uma harmonia de fundamentos.
Todo o nosso ser emocional, mental e espiritual também se ergue em fundamentos.
A tal ponto que simplesmente usar bem tudo aquilo que é concedido
É reinar e realizar-se em suas melhores possibilidades.
Acima de tudo, o fundamento supremo de nossa existência se chama: ancestralidade.
Ancestralidade física, psíquica, cultural, espiritual.
Reinamos em nossas vidas quando reconhecemos todas as vidas anteriores
como alicerces sagradados em nossa genealogia.
Reinamos em nossas vidas quando nos percebemos sob os ombros de Reis e Rainhas.
Afinal, todos aqueles que fundaram vidas foram dinastas do Reino do Ser.
E àqueles que escolheram ou viveram a contingência de não transmitir o legado biológico
que não se deixe de reconhecer:
O fio da Linguagem, da Cultura, dos Valores
O legado das inúmeras boas ações praticadas
O rol de coisas feitas, criadas, produzidas
O tesouro da sabedoria recebida, aumentada e repartida
São vossa descendência. São vossa sucessão.
Sois como o vento, a chuva, a luz e a terra
Que nutrem e conectam toda esta Floresta de Vidas.
Outra, e tão grande quanto, é a vossa realeza.
Representantes diretos da Ancestralidade maior da Humanidade.
Que nos seja respeitada a escolha sobre qual destes Reinos queremos servir
A escolha de como queremos nos ancestralizar.
Seja o livre-arbítrio o nosso supremo Fundamento.
Thiago El-Chami
Refinamento na Realização - Sefirat ha'Omer Semana 7 Dia 5 - Hod de Malkuth
Refinamento na Realização
Sefirat ha'Omer
Semana 7 Dia 5 - Hod de Malkuth
Balzac escreveu um conto genial sobre Refinamento e Realização.
Um grande mestre da pintura, do tempo das corporações de Ofício,
tinha uma Escola.
Nela, dava aulas aos jovens, trabalhava com eles
em obras de grande porte, atendia a encomendas
de reis e do clero.
Passava parte do dia com os Discípulos e Aprendizes.
Mas reservava um tempo para trabalhar só
numa sala secreta.
Ficava lá até duas horas por dia, quando dava.
Os alunos tinham curiosidade, mas ninguém fazia ideia
da grande obra preparada em segredo.
Se tudo que o Mestre fazia era magnífico, imagine a tela
em que ele ainda trabalhava há mais de quarenta anos!
Um belo dia, o mestre vacilou, e dois jovens entraram ali na sua ausência.
Viram uma tela incompreensível, nenhuma imagem decifrável.
Ao invés, grossas patacas de tinta, como o chapisco dos muros;
tudo irregular e beirando ao grotesco.
Teria o mestre enlouquecido? Pensaram.
Foi quando um deles triscou, sem querer, num canto do quadro
e uma grossa camada de tinta despencou no chão.
E eles então viram, neste fragmento visível de tela,
o mais lindo pé humano que alguém já havia pintado.
O aluno mais velho logo entendeu o que estava acontecendo:
o mestre conseguiu realizar a obra-prima
mas passou tanto tempo tentando aperfeiçoar
que a descaracterizou completamente.
Seus retoques, em vez de revelá-la,
a encobriram completamente.
A tal ponto que nada mais do seu esplendor
se deixava ver no estado atual do quadro.
Toda realização na vida é incompleta e imperfeita.
Além de precária e fugaz como a condição humana.
Algumas duram milênios, como as pirâmides do Egito.
Mas passam, e também não são perfeitas.
A perfeição diz sobre o suficiente, não sobre o ideal.
Ela é o suficiente (e nunca total) ponto de contato entre o ideal e o real.
Saber quando parar de Refinar (Hod) é o segredo para, enfim, realizar (Malkuth).
"Bem aventurados os de coração refinado, porque verão a perfeição divina".
Thiago El-Chami
Perseverança na Realeza Sefirat ha'Omer Semana 7 Dia 4 - Netzach de Malkuth
Sefirat ha'Omer
Semana 7 Dia 4 - Netzach de Malkuth
Eu costumava utilizar, como metáfora da perseverança
e da preparação paciente, a figura de Usain Bolt.
O maior velocista de todos os tempos.
Dizia que ele se preparava nove meses para correr nove segundos.
O que era verdade, de acordo com as reportagens sobre seu ciclo anual.
Mas eis que, um dia, o ouvi dizer numa entrevista:
Eu me preparei nove anos para correr nove segundos.
Ou seja, ele se preparava o ano todo para realizar o melhor ano possível.
E se preparou a carreira toda para realizar a melhor carreira possível.
Para um ser humano neste nível, preparação (Netzach) e realização (Malkuth)
não são momentos separados: são uma coisa só.
Cada dia de preparação é já a realização da Grande Obra.
O instante da realização final é só o último degrau da preparação.
Mas, imagina se Bolt tivesse desistido no oitavo ano.
Estaria, sem saber, a apenas um ano da sua Meta.
E se sentiria fracassado.
A importância de persistir está nisso.
O futuro pode ressignificar o passado.
A partir de algo que ainda virá
todas as perdas e dores do momento encontrarão sentido.
Os frutos ressignificam as vicissitudes do florescer.
Naturalmente, persistir na vida pode significar
desistir de coisas, pessoas e situações, muitas vezes.
O importante é não desistir de si.
Persistir junto de si até o final é a grande realização.
Para muito além da aprovação ou desaprovação exterior.
Porque, no fim das contas, só você fica com você do princípio ao fim.
Você, o aqui, o agora, seus Princípios e a Divindade do seu coração.
(seja ela qual for, mesmo profana).
Tudo passa... Mas você fica.
Até o dia em que você também passar.
Tudo passa... Mas, enquanto também não passo,
Permaneço por perto em um trajeto do teu caminho.
E você também pode permanecer
Onde, no quê e com quem fizer sentido em cada trecho da tua viagem.
Thiago El-Chami
Equilíbrio na Realeza - Sefirat ha'Omer Semana 7 Dia 3 - Tiferet de Malkuth
Equilíbrio na Realeza
Sefirat ha'Omer
Semana 7 Dia 3 - Tiferet de Malkuth
A arrogância precede a queda.
Nos velhos mitos gregos, o herói muita vez sucumbia assim.
Cometia uma falha irreparável ao se sentir invencível.
A visão cristã tradicional associa tal queda ao pecado.
Conectada ao tema bíblico geral da queda dos anjos, da expulsão do paraíso,
do exílio, da Ira Divina.
Para os gregos, não se tratava de uma queda, mas de uma falha.
Escorregar, errar o golpe, não calcular um risco.
É como se o herói, ao usar sua máxima perfeição possível,
não tivesse outra alternativa no próximo passo senão errar.
Pois o acerto absoluto, a perfeição total é para os deuses.
A própria noção de virtude na época heróica tinha algo de excesso.
Era chamada de 'hybris', e era uma qualidade excepcional
até comparável com um animal ou um fenômeno da natureza:
a força do cavalo, a ferocidade do leão, a violência do vendaval.
É a partir do excesso heróico que os gregos aprendem sobre a ética
sobre virtude, equilíbrio, caminho do meio, moderação
sobre a Justiça como virtude suprema.
Portanto, reinar com equilíbrio é reinar por mais tempo.
Alexandre, o Grande, com sua carreira espetacular e morte precoce,
foi a prova histórica desta verdade, pela via da negação.
Os antigos chineses chegaram a ideia semelhante.
Para eles, o ápice ou glória é o ponto alto de uma Roda.
Logo, o passo seguinte é o início da descida.
Às vezes, da queda.
O segredo para ficar lá em cima é dar sempre um passo pra trás
compensando o próprio movimento da vida pra frente
Como fazemos na esteira: corremos no mesmo ritmo dela, mas em sentido contrário,
para permanecermos no lugar. No equilíbrio.
Outra imagem deles é a do poço:
o poço permanece cheio doando da sua abundância o dia todo.
Você o esvazia na doação e ele se repõe.
Se você tapa o poço por avareza, ele se obstrui ou seca.
No alto, na realeza, o equilíbrio é doação.
Compartilhar a sua glória é retardar ou mesmo impedir a queda.
"Bem aventurado o que tem fome e sede de Justiça(Tiferet), porque terá abundância (Malkuth)".
Thiago El-Chami
Disciplina na Realeza - Sefirat ha'Omer Semana 7 dia 2 - Geburah de Malkuth
Disciplina na Realeza
Sefirat ha'Omer
Semana 7 dia 2 - Geburah de Malkuth
Seja impecável com a tua Palavra.
Este é o 1° dos quatro compromissos do velho povo Tolteca.
Afirmar, negar, supor, ordenar
No que te está ao alcance em cada momento.
Na Idade Média européia, havia uma complexa rede de poder.
Um proprietário mandava em sua terra e servos.
Mas, junto com outros, obedecia ao médio proprietário do entorno.
Que respondia ao latifundiário da região.
E assim ia até os reis
de modo que reis menores eram vassalos de realezas maiores.
Num sistema desse, é preciso o tempo todo saber aonde vai o alcance do poder.
Quem são meus vassalos? O que posso exigir deles?
Afinal, eles também são servos indiretos do meu senhor. Podem me denunciar a ele.
Nesta trama, cada poderoso está vulnerável aos de cima e aos de baixo.
Além do mais, proprietários menores querem crescer, e sabem quantos conchavos são necessários para isto e quais cabeças precisam derrubar.
No mundo pós-moderno, a coisa não é muito diferente.
Nosso senhorio (o Capital) não opera ao modo da velha nobreza.
Mas o preço da palavra empenhada ainda prevalece: crédito.
O burburinho de palavras venenosas é pior que bombas
nas mesas geopolíticas, parlamentos, bolsas de valores, redes sociais.
Na sociedade de consumo, a palavra de ninguém vale nada.
O dinheiro fala mais alto. O dinheiro fala por todos.
O dinheiro fala o que quer. O dinheiro faz o que quer.
A verdadeira impecabilidade da palavra se revela na experiência da Comunidade.
É onde todos são realmente iguais que a minha palavra não pode lesar o outro.
A palavra envenenada, adoecida, mentirosa, corrupta, degradada
prejudica o sonho de vida do outro e o sonho coletivo da comunidade.
E pode mesmo prejudicar a própria existência do outro ou da comunidade.
Enquanto isto, a palavra impecável tece comunidade: é sabedoria, união, afeto, cura, solução, libertação, pacificação, poder compartilhado.
A verdadeira Realeza (Malkuth) é a Comunidade.
E a Palavra Impecável (Geburah) é um de seus poderes coletivos.
"Bem aventurados os mansos (Disciplina) porque herdarão a Terra (Reino)."
Thiago El-Chami
Bondade no Realismo - Sefirat ha'Omer Semana 7 Dia 1 - CHesed de Malkuth
Bondade no Realismo
Sefirat ha'Omer
Semana 7 Dia 1 - CHesed de Malkuth
Um fazendeiro chinês perdeu seu melhor cavalo,
que fugiu para a floresta.
Todos lhe dizem: oh, que lástima!
E ele responde: talvez...
Três dias depois, o cavalo retorna
com outros três cavalos selvagens
Todos lhe dizem: oh, que dádiva!
E ele responde: talvez...
Seu filho, hábil adestrador,
tenta subir num dos cavalos selvagens
cai e fratura as duas pernas.
Todos lhe dizem: oh, que lástima!
E ele responde: talvez...
Duas semanas depois,
O exército passa a convocar os jovens para a guerra.
O rapaz é dispensado.
Todos lhe dizem: oh, que dádiva!
E ele murmura para si: "eles ainda não compreenderam".
Os acontecimentos são relativos.
Podemos recebê-los como bênçãos ou maldições.
E sempre outros desdobramentos virão depois
Melhores ou piores.
O que é bom, às vezes piora.
Mas pode melhorar de novo.
Desfruta com calma e previne o que dá.
O que é ruim pode melhorar e ficar bom.
Trabalha com calma e corrige o que dá.
Não fazer julgamentos severos sobre a vida
É um saudável realismo.
Acreditar que o Bem (Chesed) sempre retorna
E seguir fazendo e sendo o Bem que se pode (Malkuth)
É um saudável (Chesed) realismo (Malkuth).
Esvazia o teu espírito do ouro falso da maldade do mundo.
Sê pobre de suposições e caminha com menos peso.
"Bem aventurados os pobres pelo Espírito (Chesed) porque deles é o Reino do Ser (Malkuth).
Thiago El-Chami
Realeza no Fundamento - Sefirat ha'Omer Semana 6 Dia 7 - Malkuth de Yesod
Realeza no Fundamento
Sefirat ha'Omer
Semana 6 Dia 7 - Malkuth de Yesod
O fundamentalismo é velho como o mundo.
Mas muitos não o distinguem do terrorismo.
Meu avô cultivava os fundamentos do Islã.
Chegou ao Brasil sem falar Português.
Mas, onde morava, descobria a direção de Meca e rezava nela.
Terrorismo é fanatismo:
um fundamentalismo fanático, um fanatismo fundamentalista.
Chamá-lo assim evitaria injustiças.
Todos nós temos apego aos fundamentos.
Há muitos demolidores e desconstrutores hoje em dia
Mas há tanta violência ao derrubar muros alheios
quanto hipocrisia a preservar muralhas nossas.
O Fundamento é como uma semente.
Cultivá-lo é cuidar que floresça.
Cultivar Gandhi não é depositar flores ao jazigo
mas continuar sua mensagem e ações.
Cultivar Elvis é escutá-lo, tocá-lo, cantá-lo, dançá-lo.
Às vezes, preferimos cultuar um fundamento na forma morta.
Por que não torná-lo pulsante em nós?
Uma linda tradição, em uma de suas versões,
venera o fundamento pelo mistério da morte e do além dela.
Há todo um fundo teológico respeitável em como fazem isto hoje.
Mas também houve um lado político lá na origem:
como os romanos passariam a seguir,
em lugar de seus deuses,
um homem cuja vida era a total contestação do Império?
Roma abraçou o Cristo quando já decadente
os cristãos se multiplicavam todos os dias
e já não os podia exterminar.
E um Jesus vivo, andarilho, pobre, trabalhador
heterodoxo, visionário, pensante e atuante
seria demais.
Louvável o mistério do Rei na Cruz
Alegoria do Espírito na Quaternidade da matéria.
Porém, ela sempre me inquietou,
pois, aquém e além da Cruz,
o Rei (o fundamento) está vivo:
Eu não louvo este Cristo à cruz pregado
Cujas chagas em flor o sangue banha;
Eu não louvo este Cristo maltratado
Pela malta romana atroz, tacanha
Amo o Jesus menino iluminado
Cuja Estrela aos três magos acompanha
Amo o Jesus profeta extasiado
Dando ao povo o Sermão lá na Montanha
Tirem o Cristo da cruz do homem velho!
Deixem-no vir trazer seu Evangelho!
Deixem-no, outra vez, conosco estar!
Parem com este martírio milenário!
Já o erguemos uma vez, lá no Calvário:
por que pregá-lo, de novo, no Altar?
Thiago El-Chami
Fundamento no Fundamento - Sefirat ha'Omer Semana 6 dia 6 - Yesod de Yesod
Fundamento no Fundamento
Sefirat ha'Omer
Semana 6 dia 6 - Yesod de Yesod
No Princípio, era o Verbo.
O Verbo estava com Deus.
O Verbo era Deus.
Princípio, Verbo, Deus.
Assim conta um dos evangelhos nazarenos
depois romanizado e chamado cristão.
Esta sequência, na verdade está invertida
Vai do Princípio ao que vem antes dele.
A Ordem Cósmica é:
Deus, Verbo, Princípio.
Pai, Filho, Nascimento.
A História da Criação do ponto de vista do Espírito, do Masculino.
Há uma outra face (simétrica, é claro) desta moeda cósmica.
A Ordem Terrestre é:
Mãe, Carne, Parto.
Concepção, Gestação, Vida
A História da Criação do ponto de vista da Natureza, do Feminino.
No Parto, era a Carne.
E a Carne estava com a Mãe.
E a Carne era a Mãe.
A maneira como conhecemos a Trindade na tradição romana
oculta três importantes verdades (óbvias como a luz do dia)
A Trindade (Família Sagrada) mundo afora: Pai, Mãe, Criança.
No Princípio Masculino desta Família, uma trindade:
Espírito Ancestral, Pai, Filho
No Princípio Feminino desta Família, outra trindade:
Natureza Ancestral, Mãe, Filha
Em ambos, o ritmo básico do tríplice tempo:
Ancião(a), Pai(Mãe), Jovem
No Princípio Criado (Filho/Filha), a última triplicidade:
Feto, Criança, Adolescente.
No Feto, o Verbo se faz Carne (nasce), e habita entre nós
Na Criança, a Carne se faz Verbo (evolui) e conquista a sua voz
No Adultescente, o ser que já veio à luz (nasceu) e já conheceu a luz (evoluiu) pode se tornar a luz do mundo.
E, como Adulto, recomeçar a dança cósmica e terrestre da Trindade, ou da Sagrada Família.
(Estamos no limiar da Adolescência espiritual da Humanidade.)
Na história do nascimento de Yeshua, o evangelista simbolizou a verdade do espírito na aventura da forma humana.
Mas, nesta história, ele se tornou adulto e não perpetuou a família sagrada...
Não deixou descendência no ventre da matéria...
Yesod também significa Ventre.
Yesod de Yesod é a própria Deusa Mãe, Ventre de tudo isto.
Ave Ísis, Sophia, Shekinah!
Refinamento no Princípio - Sefirat ha'Omer Semana 6 Dia 5 - Hod de Yesod
Refinamento no Princípio
Sefirat ha'Omer
Semana 6 Dia 5 - Hod de Yesod
A gente sempre deseja estar pronto para finalmente começar algo.
Mas a gente nunca está pronto.
Passar do tempo de começar, em vez de aprontar, desapronta.
O quanto de fundamento é necessário para uma casa? E para um edifício?
Alicerces demais inutilizam um espaço.
Segurança demais inviabiliza um empreendimento.
Se não há risco de perder, não há investimento.
Houve uma falsa tentativa.
Numa era de simulações, realidade virtual, realidade aumentada
isto sim, é um grande risco.
Fazer da própria vida uma grande deep fake.
Para evoluir ao nível humano, a natureza desaprontou o primata.
Saímos do ventre um pouco mais crus.
Começamos um pouco antes.
E não é por acaso que a nossa infância (o Tempo do Começo) seja a mais longa e dependente de todas, em proporção.
Em toda a parte, a vida nos ensina:
Para começar, o mínimo é o necessário. E o necessário é suficiente.
Refinar (Hod) o fundamento (Yesod) para garantir o bastante (e não mais) para o início.
E, muitas vezes, o suficiente é começar.
Começar antes de estar pronto.
Porque a gente nunca fica pronto.
Nada nunca fica pronto.
O Cosmo é um grande começo em expansão (Big Bang) que ainda não terminou
e isso já faz 13,8 bilhões de anos.
Olha para todos os começos da tua vida.
Os que foram, os que estão sendo.
Os que não foram, e os que estão faltando.
A gente se preocupa tanto com o acabamento
E cuida tão pouco do começamento...
Thiago El-Chami
Perseverança no Fundamento - Sefirat ha'Omer Semana 6 Dia 4 - Netzach de Yesod
Equilíbrio no Fundamento - Sefirat ha'Omer Semana 6 Dia 3 - Tiferet de Yesod
Equilíbrio no Fundamento
Sefirat ha'Omer
Semana 6 Dia 3 - Tiferet de Yesod
Ao nível simbólico, Yesod é a Alma e Tiferet, o Espírito.
O Espírito é interioridade:
permanência, lealdade, escuta, nutrição orientadas a si mesmo.
A alma é também dentro, mas é interioridade orientada ao mundo.
Nos mitos, é comum vermos a Alma e Espírito como Princesa e Príncipe.
As núpcias destes Princípios são o começo da jornada
rumo à realeza interior
na qual ambos se revelam como Rei e Rainha internos.
A Cabala traça um intinerário para esta ascensão.
E muitas verdades cabalísticas, alquímicas, astrológicas
se ocultam nos contos de fadas.
Uma forma discreta para as transmitir século após século.
Mas, ao vestir conceitos profundos, usou-se as roupas da cultura de então.
E muitas coisas envelheceram mal:
as alegorias da passividade e receptividade do princípio feminino adormecido,
e as do caráter heróico e salvador do princípio masculino encantado.
Reações hoje brotam, impugnando a serventia destas estórias, ou mesmo propondo enredos diversos e finais alternativos.
Mas, o quanto esta justa rebelião, pelo desmomnte de narrativas patriarcais opressoras, não insiste também na mesma desconexão contemporânea entre Alma e Espírito?
Como realizar aquela rebelião sem esta desconexão?
Mais ainda: como porpor um novo lugar de conexão Alma-Espírito como fonte de uma nova matriz civilizatória Matrifocal?
Não há caminho para uma Renascença matriarcal na continuação desta cisão.
O Caminho é Tiferet (Equilíbrio) em Yesod (Fundamento).
Nem repetir velhas histórias do velho jeito de mil anos atrás
(afinal, o patriarcado de fato se apoderou delas para desviá-las de sua finalidade)
E nem abandoná-las sem meditar sobre o que as fez surgir
(jogando fora a criança junto com a água do banho).
Cada nova época tem seus mitos, narrativas e símbolos.
Ouçamos de novo o feminino protagonista contar novas histórias de princesas e rainhas
nas quais o masculino não mais apareça como o redentor/salvador.
Como você recontaria este enredo cósmico, com as roupas de hoje e com as cores da utopia (a sua utopia pessoal e a da cultura ou contracultura que te guia)?
Thiago El-Chami
Disciplina no Fundamento - Sefirat ha'Omer Semana 6 Dia 2 - Geburah de Yesod
Disciplina no Fundamento
Sefirat ha'Omer
Semana 6 Dia 2 - Geburah de Yesod
O grande filósofo Hegel certa vez enunciou uma estranha verdade:
"O Espírito é a capacidade de permanecer junto a si mesmo na absoluta dilaceração".
Para compreendê-la, comecemos pensando no que não permanece, no que foge
quando a dilaceração se apresenta.
O Corpo, por exemplo, a partir de um certo limite, abandona a vida quando dilacerado.
Organismos desligam diante de uma dor insuportável.
A mente também nos abandona quando a dor psíquica é superlativa.
A razão se apaga, a sanidade se dilui, a loucura aparece.
Corpo e mente se guiam pela busca do prazer e pela fuga da dor.
O Espírito não.
O que é verdadeiramente espiritual em nós se apresenta a tudo o que é.
Luz e treva, bem e mal, prazer e dor.
O espírito reafirma sua essência nos momentos de testemunho.
Pense nos cristãos atirados aos leões, nas bruxas às fogueiras.
Raramente, algum deles renegava sua fé em meio à dor mais torturante.
Hegel chega a completar adiante: "o Espírito é a capacidade de transformar o negativo em ser".
Trocando em miúdos: a treva em luz, o mal em bem, a morte em dádiva, a traição em bênção.
Para isto, ele abraça, aceita, recebe o que se apresenta. E então o transforma, transformando-se primeiro.
E ele só transforma a si mesmo e depois ao mundo porque não se abandona.
Porque permanece junto a si mesmo.
Mas o Espírito não permanece junto a si somente na prova, na ruína, na perda.
Ele é permanência, encontro, escuta interior permanente.
Ele também não foge quando a felicidade chega. Quando há redenção ou calmaria.
O quanto há de permanência e lealdade a mim mesmo em minha vida, é o quanto há de Espírito nela.
Da mesma forma, não fujo somente quando tudo se dilacera.
Hoje, mais do que nunca, fugimos quando tudo ainda está bem.
Fugimos pelo prazer, pelo lazer, pela distração, pela rotina.
E aí, claro, quando a dilaceração nos visita, é que temos ainda mais dificuldade de voltar.
O quanto você consegue permanecer junto de si mesme?
O quanto você se recorda de quem é? Se recorda do que quer fazer aqui?
O quanto você tem aprendido sobre resiliência?
Thiago El-Chami
Bondade no Fundamento - Sefirat ha'Omer Semana 6 Dia 1 - Chesed de Yesod
Bondade no Fundamento
Sefirat ha'Omer
Semana 6 Dia 1 - Chesed de Yesod
Compare esta sentença de Platão:
"O Princípio é como um deus que, quando está presente, tudo salva"
Com esta anedota (sem graça nenhuma) contada por alguns professores de Direito:
"Os princípios? Ficaram todos lá no princípio".
Não é por acaso que Platão, ele mesmo, se tornou um Princípio da nossa Civilização.
O Princípio, em qualquer área da vida ou do conhecimento, não significa somente origem, começo ou início.
Significa também a coisa mais importante: o fundamento.
A partir do fundamental, do mais importante, determinamos a importância de cada coisa.
Yesod significa fundamento: Princípio.
Chesed (Bondade) se une a Yesod para realçar uma verdade profunda escondida numa aparente obviedade:
Bons princípios são princípios bons.
Como compreendeu bem Aristóteles, discípulo de Platão e outro Princípio do Ocidente:
"Toda arte, toda ciência, toda ação e toda escolha têm por fim um bem".
"Por isto se diz que o Bem é o fim de todas as coisas".
Dizer que o Bem é o fim de tudo significa dizer que todos os princípios verdadeiros a ele se dirigem.
Os fins são a direção para onde vamos, o que queremos alcançar ou realizar.
Os princípios são de onde partimos, como começamos, como fazemos o que fazemos.
Vistos de uma perspectiva mais elevada, se revelam como uma coisa só.
Imagine um círculo: cada ponto é início e fim da circunferência.
Partimos e chegamos do mesmo lugar. O lugar dos nossos valores. O lugar que somos.
No fim das contas, nos realizamos quando realizamos os nossos princípios.
Qual é o princípio supremo da tua vida?
O quanto você está próximo ou afastado dele?
Nunca é tarde para retornar ao Princípio.
Thiago El-Chami
Realeza no Refinamento - Sefirat ha'Omer Semana 5 Dia 7 - Malkuth de Hod
Realeza no Refinamento
Sefirat ha'Omer
Semana 5 Dia 7 - Malkuth de Hod
Para ser grande, sê inteiro:
nada teu exagera ou exclui;
Sê todo em cada coisa
Põe o quanto és no mínimo que fazes
Assim, em cada lago, a lua toda brilha,
Porque alta vive.
(Fernando Pessoa)