Tolerância na Tolerância
Sefirat ha'Omer
Semana 4 dia 4 - Netzach de Netzach
Os antigos ambientes da Aristocracia eram cheios de etiquetas.
Etiquetas, protocolos, mesuras, maneiras de vestir-se e postar-se.
Ninguém se senta antes do rei. Todos levantam quando ele chega.
É de bom tom sempre elogiar o seu bom gosto e inteligência.
Rir de suas piadas. Aprovar todas as suas ideias.
A velha realeza não tolera outra vontade ou opinião que não a própria.
Toda este verniz e polidez é para conquistar a tolerância real.
Mas diante de tamanha uniformidade, como falar em tolerância?
Não há tolerância onde não se tolera a diferença.
Pois tolerar é, justamente, conviver com a diferença.
Se eu não estiver vestido em traje a rigor (RIGOR) não posso estar com o rei.
Mas também não posso estar tão deslumbrante a ponto de ofuscá-lo.
Mas nem o rei tolera uma cena tão artificialmente montada.
Como tolerar um lugar que não me permite exercer o mínimo de tolerância?
Como, se nada ali escapa ao meu agrado?
Em nome da sustentação deste castelo de hipocrisia, é preciso que alguém escape a ela.
É o papel do bufão, do palhaço, do bobo da corte.
É sua tarefa ridicularizar as aberrações da própria cena aristocrática.
Rindo e fazendo rir, o bobo alivia um pouco os ares ao seu redor.
Num contexto em que as roupas mal permitem respirar, isto já é um alento.
Troçando do próprio rei, ele o ajuda a recordar-se de que é um ser humano.
Neste reino de fingimento, ele é o único que pode dizer a verdade.
Mas isto não basta.
Alguns dias por ano, é preciso desconstruir toda esta fantasia mórbida.
As pessoas então, por quatro dias, esquecem todos as máscaras.
Da maneira mais curiosa: usando máscaras.
Reis se vestem de mendigos e escravos são tratados como reis.
Todos se toleram na espontaneidade do anonimato.
É o carnaval.
E o carnaval ainda hoje, forçando os limites de toda convenção,
nos ensina todo ano uma coisa:
tolerância zero é o colapso da humanidade
por isto, é preciso tolerar a tolerância
Thiago El-Chami
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