Livro dos Espíritos - Livro I - 3 – Criação, Técnica e Natureza


Evidentemente, aquele que procurar, no Universo, vestígios da atuação do Criador do mesmo modo com que se buscam as marcas da pincelada sobre a tela, haverá de frustrar-se totalmente.

Ao afirmar que o Universo é uma criação, a única coisa que podemos saber, de antemão, é que não se trata de uma obra ao modo das que o homem cria.

As coisas que o homem faz ou cria se deixam compreender sob o signo da Técnica, do artifício, da modificação intencional e inteligente de uma realidade natural espontânea.

Não se trata de uma oposição, por certo: a Técnica humana altera coisas da natureza, sem jamais retirar-lhes a naturalidade. Ainda que se modifique completamente o aspecto visual, propriedades físicas, composições químicas, estruturas biológicas, o homem sempre o fará em consonância com as Leis da Natureza.

As coisas que o homem faz, portanto, não são coisas puramente artificiais: são naturais-e-artificiais. Possuem uma dimensão natural profunda e uma dimensão artificial acrescida.

Esta digressão teve por objetivo salientar a diferença entre o que se entende comumente por criação, em se tratado das coisas humanas, e o supremo esforço de pensamento que se deve despender para nos aproximarmos, devagar e de leve, de questões transcendentes como a da Criação divina, cuja completa elucidação, por certo, só nos saltará aos olhos quando formos cidadãos venturosos de mundos mais avançados na escala sideral.


Em todo caso, para começarmos a alfabetização espiritual que nos colocará a caminho desta futura Universidade do Espírito, é preciso que tenhamos a humilde coragem de tatear na escuridão, a fim de em nós desperte o anseio pela luz. Perguntar pelas coisas celestes, sem espasmos de orgulho intelectual, é um dos caminhos para nos tornarmos um pouco menos mundanos. 

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