Coma alcoólico

A gasolina aumentou agora por uma razão muito simples: porque seu preço estava estrangulado, numa tentativa inócua de conter a inflação que resultou em um prejuízo de 60 bilhões de reais à Petrobrás. E isso é muito mais escandaloso do que qualquer Petrolão. Evidentemente, já era pra ter acontecido bem antes, mas vivemos naquela degeneração da Democracia, que Aristóteles denominou "Demagogia", a qual proíbe a emersão de verdades ineleitoreiras em hora inoportuna.

A situação se torna dramática quando se recorda que, além de vender combustível a preço defasado, a Petrobrás ainda tem que importar Diesel (13 bilhões) e Gasolina (3 bilhões), a fim de suprir a demanda crescente em face da produção estagnada. E eu não quero nem tratar da auto(in)suficiência.

O triste é saber que o Etanol, que ser-nos-ia alternativa (e foi cantado em prosa e verso como tal), foi depauperado após a descoberta do Pré-Sal. Dezenas de Usinas e lavouras encerradas (50 Usinas nos últimos quatro anos, num país que não tem 400). De modo irônico, o governo criou a antítese perfeita do programa "Próximo Passo", que poderíamos chamar de "Passo Atrás". Nas cidades que receberam o funesto título de "cemitérios de usina", inúmeras famílias passaram a necessitar do Bolsa Família, em função da erosão dos empregos relacionados ao ciclo do etanol (e não estou falando dos empregos sazonais de bóia-fria, mas de demanda estrutural).

E pensar que o Presidente anterior a Dilma galhofava dos Estados Unidos, que produzem etanol a partir do milho, enquanto o nosso etanol da cana seria muito mais rendoso, ambientalmente favorável e tal e coisa, incluindo pilhérias como o elogio aos usineiros como heróis da pátria, e o blefe de que o Brasil criaria e lideraria a "Opep do Etanol". Naquela época, eu o aplaudi entusiasticamente.


Por tudo isto, há uma semana, decidi voltar a abastecer meu carro com álcool - que não está mais barato (ao contrário, em vez de competir com a gasolina, o álcool a acompanha). O farei por razões ecológicas mas, sobretudo, políticas. Como um protesto silencioso (não obstante o prejuízo que terei) com relação à nossa trágica política energética. Esta também é uma forma de intervir democraticamente na política - ainda que na esfera diminuta da decisão microeconômica. Foi a mais legítima que encontrei. Para mim, crítica sem engajamento é mero exercício opiniático de sofá. Há que assumir o risco e, amiúde, o prejuízo.

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