“História da Loucura” versus “O Poder Psiquiátrico” 2 – Da violência à microfísica do poder

Além da transição de uma análise das representações para uma análise das relações de poder, Foucault estabelece outros contrapontos entre as duas empreitadas acima indicadas.

Segundo ele, três noções marcam o viés da análise feita em História da loucura.

De início, a noção de violência. Esta daria a impressão que o excesso de força física seria contrário ao procedimento racional calculado do exercício do poder. Ao contrário, a racionalização do poder prevê espaço inclusive para a violência, a regula em seus modos e meios e ocasiões adequadas.

Outra noção que não o satisfez naquele livro foi a de Instituição. Nela, podem se esconder ao olhar os indivíduos e as coletividades. E mais, pode-se confundir a realidade concreta com os discursos que circulam no interior da instituição, por exemplo, do espaço asilar. Assim, não são tanto as regularidades institucionais, o funcionamento ideal normal que importa, mas as assimetrias, desvios, relevos, jogos de poder que deformam a imagem estática destas.


Por fim, Foucault se incomoda com a noção de Família tal como mirada na História da Loucura. 

Nela, Foucault pensava que Pinel ou Esquirol praticaram a violência de introduzir o modelo familiar no espaço asilar. Relendo tais autores, Foucault viu poucas referencias a isto. Assim, em vez de pensar em violência institucional familiar, ele passa a pensar em microfísicas do poder, em redes de uso de forças e outras estratégias, numa pulverização de esquemas que não segue um modelo básico. 

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