Distinção entre conhecimento puro e conhecimento empírico em Kant



           
Conhecimento empírico é aquele que é obtido mediante a experiência. Esta é apreendida pela Sensibilidade. Consiste em uma modificação do sujeito, isto é, em um ser afetado pelos objetos da experiência. Uma cor, uma textura, um movimento, um som– todos são afecções do sujeito, são conhecimentos empíricos. Certamente, o conhecimento empírico possuirá espécies e graus – desde a visão de alguém a passar do outro lado da rua, até a verificação experimental da circulação do sangue, por exemplo.
         Já no conhecimento puro, não há modificação do sujeito. Não há a presença atual do objeto na experiência. Ele se realiza no puro plano do pensar, nas instâncias do Entendimento (Conceitos Puros) ou da Razão (Idéias Puras). Tais conceitos e idéias puras serão depois denominados transendentais, por Kant – não porque sejam transcendentes, como os objetos que a metafísica dogmática pretende conhecer, mas porque transcendem o conhecimento do objeto e se instauram como um conhecimento do conhecimento do objeto, isto é, como um conhecimento das condições de conhecimento dos fenômenos. Assim, o conceito de círculo é um conhecimento puro da geometria, e representa condição fundamental para que o sujeito possa conhecer os círculos empíricos, ou seja, aqueles com os quais ele se depara na experiência.  
         O conhecimento empírico é sempre a posteriori, vem após a experiência, ou seja, através dela. Nunca antes. O conhecimento puro é a priori, e isto significa: independência da experiência. Esta independência, evidentemente, não implica sempre anterioridade: eu conheci muitos círculos empíricos antes de possuir o conhecimento puro do conceito de círculo. Porém, de agora em diante, eu sou capaz de reconhecer círculos por possuir o conceito antes da próxima experiência.

         Porém, há conceitos a priori que precedem a experiência do objeto: os antigos gregos, por exemplo, já estudavam as propriedades do quiliágono, o polígono regular de mil lados, mesmo sem nunca terem sido capazes de construir ou desenhar um. 
           Esta distinção será de imensa utilidade para a tese kantiana posterior, a respeito da possibilidade de uma metafísica enquanto inventário de conceitos puros da razão, totalmente adstrita aos limites da experiência, mas destituída de todo conteúdo empírico contingente. 

Nenhum comentário: