As Razões de Aristóteles 23 - Apodítica e Dialética: Monólogo e Diálogo

Apodítica e dialética são, para Aristóteles, duas formas de raciocínio, de argumentação. São distintas e, em alguns aspectos, antagônicas, cobrindo regiões diferentes do acesso pensante do homem à verdade.

A apodeixeis ou demonstração é algo que se efetua para um outro. Supõe, portanto, o momento da intersubjetividade, requer alguma espécie de referência a um interlocutor.

Dialética vem vem dialegesthai, que significa precisamente diálogo. Também exige o outro falante ou, pelo menos, o outro ouvinte, pois também se enuncia em situação de interlocução.

Estas duas formulações genéricas sobre apodítica e dialética parecem sugerir que ambas então se assemelham estreitamente no tocante à polifonia argumentativa, à pluralidade discursiva, à presença de mais de uma voz ou idéia no processo de elaboração do conhecimento.

Contudo, trata-se de uma aparência. A apodítica supõe o outro, decerto. Mas o faz no modo ínfimo e passivo do assentimento.

Aquele que efetua uma demonstração parte sempre de um “Considere-se”. O interlocutor admite as condições iniciais e, a partir delas, o argumentador marcha rumo à demonstração de sua tese, tentando extrair, daquelas premissas que o interlocutor anuiu (efetiva ou hipoteticamente), uma solução.

Assim, o outro não tem aí o direito de intervir com questões, proposições alternativas ou críticas. Os diálogos platônicos, por exemplo, exemplificam em muitos momentos a situação em que outros interlocutores simplesmente acompanham Sócrates raciocinar em voz alta, seguindo suas ideias até a conclusão final.

A matemática, por exemplo, em suas longas demonstrações de sentenças e deduções de fórmulas, opera deste modo. Aceitas as definições iniciais e enunciadas as primeiras sentenças, as seguintes se desdobram a partir delas de modo a que o interlocutor é obrigado a assentir, porque perfeitamente adequadas às regras de formulação.

Com a dialética aristotélica, a coisa será diferente. Como se verá nos próximos estudos, ela parte da expressa consideração do pensamento do outro, na busca da melhor proposição, justamente por não se saber, de antemão, qual a melhor tese a respeito do assunto.


Desta forma, pode-se dizer que a apodítica é uma técnica do monólogo, ao passo que a dialética o é quanto ao diálogo. 

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