As Razões de Aristóteles 32 - quarta etapa da dialética aristotélica

Desatado o impulso inicial da investigação dialética, ela se expande em direção a novos horizontes, amiúde insuspeitados. Ela se caracteriza por uma abertura tanto inesperada quanto provocada, que toma direções e espaços nem sempre vislumbráveis a princípio.

Isto não significa uma superioridade do pensamento dialético sobre o apodítico. Este também conta com sua instância de abertura. Só que ela é prévia, e vem do noûs. Neste sentido, ela é até mais visceral, mas certeira, mais pungente.

Todavia, quando ela se fecha, só compete à demonstração extrair aquilo que ali já está: coelhos escondidos, cartas na manga. Nunca mágica nova.

Toda vez que a demonstração pretender ir além do limite afixado pelo teor heurístico das suas premissas, ela poderá suscitar contradições insuperáveis. E empacar nelas.

Quando isto acontece, o oponente se dá por satisfeito, e a luta se encerra por auto-nocaute: o falante incorreu em auto-contradição.

Na dialética, porém, a contradição irrompe aqui e ali, sempre com ares de bem-vinda e augúrios de boa fortuna. Porque, neste terreno, ela não espouca como falha ou erro, mas como etapa do percurso.

O dialético busca a contradição consigo mesmo, busca o impasse, busca a aporia.

Quando uma proposta culmina em contradição, ela deve ser abandonada. E, se ela possuir uma diametralmente oposta, esta resulta comprovada pela impossibilidade da sua negação.


Buscar ativamente a contradição faz com que o falante teste as virtualidades e insuficiências de sua proposta, antecipando objeções e, quando a proposta é robusta, respostas às objeções, esclarecimentos adicionais, co-princípios e outras verdades emergentes que corroboram a tese inicial cada vez mais, alçando-a ao status de autêntico princípio.

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