As Razões de Aristóteles 28 - Universalidade dialética e particularidade apodítica

A demonstração apodítica tende ao particular; ou, no limite, ao mesmo nível de generalidade. Assim, diante de duas relações universais, é possível deduzir uma terceira relação universal. Mas também é possível, a partir de uma premissa universal, acrescida de uma outra premissa particular, deduzir uma conclusão singular.

Porém, não é possível, no plano da demonstração, obter uma conclusão mais universal do que as premissas. Esta é a limitação da apodítica: ela necessita de que princípios universais sejam dados, obtidos através do noûs, para que ela possa raciocinar e concluir.

Com a Dialética, porém, a situação é diferente. Em regra, o pensamento dialético parte de um problema, não de uma resposta prévia. As endoxa, ou opiniões autorizadas de que ele se utiliza nas primeiras etapas do processo, consistem em pontos de vista particulares (ainda que eventualmente sobre temas universais), que serão confrontados com outros pontos de vista, na busca por atingir os princípios fundamentais do assunto, as premissas verdadeiras das quais então retornar demonstrativamente para extrair as consequências.

Assim, da sua fraqueza inicial, a Dialética faz a sua força. Ela não pode partir de certezas, não as possui. Não recebe do noûs o princípio universal já dado. Mas, enquanto a apodítica tende ao particular, por já partir do universal, a dialética pode ascender investigativamente ao universal.


Evidentemente, nem sempre a ascensão ao universal será vitoriosa. A dialética pode tanto terminar num impasse insolúvel, ou seja, numa aporia, bem como pode chegar a uma solução falsa, por ter partido de endoxa falsos, ou não sabido remontar as consequências. 

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