As Razões de Aristóteles 27 - A contradição (antiphasis) na dialética aristotélica

Apodítica e dialética utilizam-se de raciocínios silogísticos no encaminhamento de suas conclusões. 

A primeira delas busca a convergência necessária das proposições, a redução da pluralidade de teses à tese única e correta.

A dialética, porém, sabe conviver com o impasse. E, inclusive, se serve dele para chegar às suas conclusões por outro caminho.

Para uma demonstração apodítica, implicar dois resultados antagônicos entre si aponta para duas possibilidades: a falsidade de uma ou ambas de suas premissas, ou a invalidade da forma de raciocínio.

A contradição (antiphasis) é fatal para a apodeixeis (demonstração).

Mas, o que é uma contradição?

Dito de maneira direta: é a simultaneidade de uma afirmação (kataphasis) e uma negação (apophasis), imediatamente, sem intermediários.

Trata-se de afirmação e negação simultâneas sobre a mesma coisa: o homem é mortal e não mortal.

Observe-se a condição temporal apresentada: ao mesmo tempo. Em momentos diferentes, a mesma coisa pode assumir valores ou predicados contraditórios. O mesmo corpo que é branco ao início do verão poderá, ao final deste intervalo de tempo, assumir o predicado não-branco. Não pode é ser branco e não-branco ao mesmo tempo.

A dialética lida com contradições efetivas, simultâneas. Mas, como ela se serve delas? Justamente do modo que a apodítica não pode fazê-lo. Se a apodítica precisa provar pela não-contradição, a dialética pode, dentre outras possibilidades, provar pela contradição.

A apodítica apela para a coerência interna de um argumento. A dialética, para a incoerência interna do argumento oposto.

Levar o argumento oposto a uma contradição significa provar o argumento que se pretende.


Refutar todas as outras alternativas, por contraditórias, significa provar a alternativa restante. 

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