Barros e Chãos

Às coisas, que são pré-livros,
tu pousaste a face imóvel.

Gramatificaste o chão
para a leitura dos pássaros.

Palavras serpentuosas
encantaste com o teu canto.

Guardaste ar, mato e águas
na matéria da poesia.

Para encontrar o azul,
refizeste o amanhecer.

Já não jovem (e nunca Gray)
retrataste o artista-coisa.

Cantaste pra passarinhos
teus arranjos de assobio.

Simétricos, tu concertaste:
solos de ave, ecos de solo.

Menino do mato, viste
o valor de valer nada;

Com dez mil ignoranças
tocaste o ínfimo ser.

Nos mostraste, finalmente:
memória é o que se inventa.

Menino mato, das plantas
foste a um tempo húmus e barros.

Morreste? Não, descresceste
velho pra crer ser criança.



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