Vigiar e Punir - De uma arquitetura conformadora a uma arquitetura militar transformadora dos indivíduos

De uma arquitetura conformadora a uma arquitetura militar transformadora dos indivíduos

A arquitetura, enquanto arte do espaço construído, do espaço delimitado, sempre foi aliada crucial para o exercício do poder. A configuração dos edifícios públicos, dos prédios institucionais, dos monumentos políticos, tudo isto sempre obedeceu a necessidades que sempre transcenderam as exigências mais concretas da engenharia.

Em tal perspectiva, uma das intenções sempre presentes nos espaços de acomodação de multidões ou de grandes coletividades de pessoas foi a de aquietar, tranquilizar, apassivar os corpos. Evitar repentinos deslocamentos coletivos, prevenir que o espaço incômodo suscitasse a reação singular alastrável em cadeia, favorecer a quietude e o asserenamento: tudo isto sempre foi visado por quem se incumbiu da tarefa de vigiar.

Com a Modernidade, porém, e o consequente advento do indivíduo, eis que a intenção de controle precisou descer da esfera coletiva para alcançar consciência singular. Mais que uniformizar coletivamente o comportamento, era necessário obter uma eficaz atuação sobre cada homem em especial. Isto não poderia ser obtido com um espaço que apenas conformasse os indivíduos. Era preciso também os transformar.


Assim, o espaço militarizado tem a vantagem de permitir um controle interno, articulado, detalhado. Isto permite agir sobre o indivíduo abrigado, dominar seu comportamento, fazer chegar até ele os efeitos do poder, torná-lo acessível ao conhecimento científico, e, com tudo isto, modificá-lo.

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