Vigiar e Punir - A necessidade de escalonamento do poder e a contraposição da pirâmide ao círculo

A necessidade de escalonamento do poder e a contraposição da pirâmide ao círculo

O sistema circular de organização do aparelho disciplinar representou um exemplo contundente do caráter racional do poder disciplinar. Eficiência, economia de meios, amplitude de observação, aprofundamento do conhecimento, todos estes fins paralelos poderiam ser razoavelmente atingidos em conjunto com os dispositivos idealizados na época clássica.

Contudo, uma coisa sempre causou perplexidade na configuração circular: a sua horizontalidade. É verdade que todos os pontos da periferia do círculo estão igualmente conectados ao centro por um raio, uma linha de igual comprimento. Porém, o centro está no mesmo nível de realidade que a periferia. Tem a propriedade de poder se conectar com cada individualidade, mas perde a visão panorâmica.

Além disso, o círculo perde visibilidade se lhe forem acrescentadas camadas intermediárias – círculos intermediários, concêntricos. Num modelo absolutamente circular, o centro inspeciona o primeiro círculo, que inspeciona o segundo, e assim por diante, até o mais externo. Mas todos eles são opacos para os que não lhe são vizinhos. E o centro é quase cego.

Não por acaso, o ensaio de democracia grega preferia as formas circulares.

Por isto, o modelo da pirâmide se insinuou como instância de contraponto ao círculo. Para Foucault, ela podia atender a duas exigências: ser bastante completa para formar uma rede sem lacuna, com a vantagem de poder multiplicar indefinidamente seus degraus. E ser discreta a ponto de não pesar sobre a massa inerte a se observar, não constituindo, portanto, um obstáculo ou freio para a produtividade desta.

É o modelo que se implantará nas fábricas e oficinas da Revolução Industrial.


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