Conceitos Fundamentais da Metafísica - 1ª Parte. 10. O deixar-acordar o Tédio como proteção contra o adormecimento

Após a identificação do tédio profundo como a provável Tonalidade Afetiva fundamental do ser-aí vigente ao tempo da preleção (1929, na Europa), Heidegger se dedica à tarefa de providenciar o despertar desta TA.

Assim, o §19 tratará

a) da questionabilidade do tédio, da possibilidade de acessá-lo investigativamente.

b) Do despertar desta TA fundamental

No tocante à primeira finalidade, Heidegger ressalta que questionar o tédio tem a particularidade de ser algo quase paradoxal, pois ele é o tipo de TA da qual tomamos conhecimento na medida em que não queremos dela saber. O tédio sempre é defrontado como algo do qual sempre se está a evadir, a fugir. Ou seja, quase nunca nos defrontamos com o tédio. Como questioná-lo?

Em face desta dificuldade, surge a segunda intenção do parágrafo em tela. No caso do tédio, e provavelmente de outras TA, não basta despertar a TA, ou melhor, não basta considerar este despertar como um simples acordar. Esta TA já está acordada e em vias de adormecimento, estamos sempre buscando adormecê-la. O despertar do tédio, portanto, há que assumir a forma de um 'protegê-lo contra o adormecimento'.

Assim, questionamos o tédio por não sabemos com certeza se ele está nos transpassando. Mas este não saber é constitutivo de nossa situação, pois nos evadimos dele.

No tédio, o tempo se alonga. Passa devagar. Por isto, buscamos a evasão do tédio pelo passar do tempo. O passatempo, portanto, não se destina a passar o tempo, mas a passar o tédio que o apodera.

Porém, não estamos em condições de afugentá-lo por passatempos eficazes, pois ele pode voltar a cada instante: ou seja, já está aí, profundamente. Basta só o ensejo de sua eclosão à tona.

Nós não nos livramos dele: o adormecemos. Mas ele não dormiu: já está lá, acordado, à distância, olhando para o nosso ser-aí.

Despertá-lo, enquanto um proteger contra o adormecimento, parece mesmo algo contrário a todo comportamento saudável e espontâneo.

Quem é que não sabe que ele persiste, amiúde, quando se tem todos os meios de expulsá-lo? Que ele então retorna mais insistente e nos arrasta até a melancolia?


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