A
demonstração apodítica parte de princípios cuja verdade já está estabelecida de
antemão. Sejam princípios comuns, como os axiomas, sejam princípios próprios,
como as definições e pressuposições, ela sempre precisa começar em terra firme.
Pode-se
dizer, inclusive, que na apodítica o lógos
começa sempre após uma aparição do noûs.
A
dialética, em contrapartida, não parte de uma verdade já assentada. Ao
contrário, sua missão não consistirá em extrair consequências de uma verdade
dada, mas em tentar acercar-se a uma verdade ainda não possuída.
Para
isto, ainda sem possuir a verdade de antemão, a dialética precisa começar de
algum lugar. Este lugar não é fornecido pelo noûs do investigador, pois que, se o fosse, tratar-se-ia de uma
verdade estabelecida e, desta forma, o lógos
atuaria tranquila e demonstrativamente.
Em
lugar disto, o dialético partirá não de uma verdade, mas de uma opinião (doxa). Um discurso talvez
verdadeiro, talvez não, acerca da matéria em questão. Um discurso cuja validade
lógica e verdade factual precisam ser ratificadas (ou infirmadas).
Contudo,
se o dialético simplesmente partisse de qualquer opinião, a probabilidade de
insucesso seria demasiado grande. Assim, é preciso que ele parta de uma opinião
que se distinga das outras em alguma medida.
Quanto
a isto, nada melhor que partir de uma opinião notável, emitida por alguém com autoridade sobre o assunto, ou com
prestígio de ser conhecedor de muitas coisas. Esta opinião abalizada recebeu,
de Aristótees, o nome de endoxa.
A
partir dela, começa o trabalho dialético.
É
possível que se venha a confirmá-la como uma opinião plenamente verdadeira.
Ou,
então, que seja verdadeira mas perfectível.
Uma
terceira possibilidade é a de que ela possa preparar o caminho e dar o lugar a
outras opiniões ainda melhores, ainda mais fundamentadas.
E,
por fim, pode ser que ela seja completamente errônea, de modo que a sua
consideração leve a um processo unicamente desconstrutivo, refutatório.
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