As Razões de Aristóteles 24 - O papel dos Endoxa na Dialética

A demonstração apodítica parte de princípios cuja verdade já está estabelecida de antemão. Sejam princípios comuns, como os axiomas, sejam princípios próprios, como as definições e pressuposições, ela sempre precisa começar em terra firme.

Pode-se dizer, inclusive, que na apodítica o lógos começa sempre após uma aparição do noûs.

A dialética, em contrapartida, não parte de uma verdade já assentada. Ao contrário, sua missão não consistirá em extrair consequências de uma verdade dada, mas em tentar acercar-se a uma verdade ainda não possuída.

Para isto, ainda sem possuir a verdade de antemão, a dialética precisa começar de algum lugar. Este lugar não é fornecido pelo noûs do investigador, pois que, se o fosse, tratar-se-ia de uma verdade estabelecida e, desta forma, o lógos atuaria tranquila e demonstrativamente.

Em lugar disto, o dialético partirá não de uma verdade, mas de uma opinião (doxa). Um discurso talvez verdadeiro, talvez não, acerca da matéria em questão. Um discurso cuja validade lógica e verdade factual precisam ser ratificadas (ou infirmadas).

Contudo, se o dialético simplesmente partisse de qualquer opinião, a probabilidade de insucesso seria demasiado grande. Assim, é preciso que ele parta de uma opinião que se distinga das outras em alguma medida.

Quanto a isto, nada melhor que partir de uma opinião notável, emitida por alguém com autoridade sobre o assunto, ou com prestígio de ser conhecedor de muitas coisas. Esta opinião abalizada recebeu, de Aristótees, o nome de endoxa.

A partir dela, começa o trabalho dialético.

É possível que se venha a confirmá-la como uma opinião plenamente verdadeira.

Ou, então, que seja verdadeira mas perfectível.

Uma terceira possibilidade é a de que ela possa preparar o caminho e dar o lugar a outras opiniões ainda melhores, ainda mais fundamentadas.


E, por fim, pode ser que ela seja completamente errônea, de modo que a sua consideração leve a um processo unicamente desconstrutivo, refutatório.

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