Apodítica
e dialética são, para Aristóteles, duas formas de raciocínio, de argumentação.
São distintas e, em alguns aspectos, antagônicas, cobrindo regiões diferentes
do acesso pensante do homem à verdade.
A
apodeixeis ou demonstração é algo que
se efetua para um outro. Supõe, portanto, o momento da intersubjetividade,
requer alguma espécie de referência a um interlocutor.
Dialética
vem vem dialegesthai, que significa
precisamente diálogo. Também exige o
outro falante ou, pelo menos, o outro ouvinte, pois também se enuncia em
situação de interlocução.
Estas
duas formulações genéricas sobre apodítica e dialética parecem sugerir que
ambas então se assemelham estreitamente no tocante à polifonia argumentativa, à
pluralidade discursiva, à presença de mais de uma voz ou idéia no processo de
elaboração do conhecimento.
Contudo,
trata-se de uma aparência. A apodítica supõe o outro, decerto. Mas o faz no
modo ínfimo e passivo do assentimento.
Aquele
que efetua uma demonstração parte sempre de um “Considere-se”. O interlocutor
admite as condições iniciais e, a partir delas, o argumentador marcha rumo à
demonstração de sua tese, tentando extrair, daquelas premissas que o
interlocutor anuiu (efetiva ou hipoteticamente), uma solução.
Assim,
o outro não tem aí o direito de intervir com questões, proposições alternativas
ou críticas. Os diálogos platônicos, por exemplo, exemplificam em muitos
momentos a situação em que outros interlocutores simplesmente acompanham
Sócrates raciocinar em voz alta, seguindo suas ideias até a conclusão final.
A
matemática, por exemplo, em suas longas demonstrações de sentenças e deduções
de fórmulas, opera deste modo. Aceitas as definições iniciais e enunciadas as
primeiras sentenças, as seguintes se desdobram a partir delas de modo a que o
interlocutor é obrigado a assentir, porque perfeitamente adequadas às regras de
formulação.
Com
a dialética aristotélica, a coisa será diferente. Como se verá nos próximos
estudos, ela parte da expressa consideração do pensamento do outro, na busca da
melhor proposição, justamente por não se saber, de antemão, qual a melhor tese
a respeito do assunto.
Desta
forma, pode-se dizer que a apodítica é uma técnica do monólogo, ao passo que a
dialética o é quanto ao diálogo.
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