Desatado
o impulso inicial da investigação dialética, ela se expande em direção a novos
horizontes, amiúde insuspeitados. Ela se caracteriza por uma abertura tanto
inesperada quanto provocada, que toma direções e espaços nem sempre
vislumbráveis a princípio. 
Isto
não significa uma superioridade do pensamento dialético sobre o apodítico. Este
também conta com sua instância de abertura. Só que ela é prévia, e vem do noûs. Neste sentido, ela é até mais
visceral, mas certeira, mais pungente. 
Todavia,
quando ela se fecha, só compete à demonstração extrair aquilo que ali já está:
coelhos escondidos, cartas na manga. Nunca mágica nova. 
Toda
vez que a demonstração pretender ir além do limite afixado pelo teor heurístico
das suas premissas, ela poderá suscitar contradições insuperáveis. E empacar
nelas. 
Quando
isto acontece, o oponente se dá por satisfeito, e a luta se encerra por auto-nocaute:
o falante incorreu em auto-contradição. 
Na
dialética, porém, a contradição irrompe aqui e ali, sempre com ares de
bem-vinda e augúrios de boa fortuna. Porque, neste terreno, ela não espouca
como falha ou erro, mas como etapa do percurso. 
O
dialético busca a contradição consigo mesmo, busca o impasse, busca a aporia. 
Quando
uma proposta culmina em contradição, ela deve ser abandonada. E, se ela possuir
uma diametralmente oposta, esta resulta comprovada pela impossibilidade da sua
negação. 
Buscar
ativamente a contradição faz com que o falante teste as virtualidades e
insuficiências de sua proposta, antecipando objeções e, quando a proposta é
robusta, respostas às objeções, esclarecimentos adicionais, co-princípios e
outras verdades emergentes que corroboram a tese inicial cada vez mais,
alçando-a ao status de autêntico
princípio.
 
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