Ao
fim do subcapítulo dedicado ao noûs,
Enrico Berti apontou uma última forma esclarecedora de distingui-lo do lógos: o noûs não procede por meio de demonstração,
mas de mostração.
Demonstrar
é mostrar uma coisa através ou a partir de outra. Esta outra coisa que funda a
demonstração é o principio. O noûs,
em contrapartida, mostra a coisa diretamente, sem intermédio de nenhuma outra.
E esta coisa que ele mostra é o princípio.
Berti,
inclusive, indica a palavra com a qual Aristóteles nomeia esta mostração: delosis, e a traduz por exposição
progressiva.
Um
exemplo interessante desta mostração não demonstrativa é fornecido pelo próprio
Aristóteles, na Metafísica, quando
ele se propõe defender a necessidade do princípio de não contradição como
condição essencial do pensar e do ser.
O
princípio de não contradição é indemonstrável, por algumas razões. A primeira
delas decorre do próprio fato de ele ser princípio: um principio não pode ser
demonstrado, pois, se o fosse, aquilo com que se o demonstraria é que seria o
verdadeiro princípio.
Acrescente-se
a isto que a não contradição é um princípio supremo, universalíssimo, do pensar
e do ser na cosmovisão do Estagirita; afinal, pensar e dizer é já pensar e
dizer coisas não contraditórias.
Porém,
a mesma impossibilidade de demonstrar tal princípio implica a impossibilidade
de o refutar.
Quem o tentasse fazer, precisaria já utilizá-lo para argumentar
contra ele.
Aristóteles
vai mais além, e diz que o oponente sequer precisa enunciar uma frase: basta
que ele diga uma palavra, pois até os termos e conceitos nucleares das
proposições precisam ser não contraditórios.
Assim,
basta que o adversário diga algo para que Aristóteles aí mostre a não contradição, na própria fala deste.
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