As Razões de Aristóteles 22 - Nous: não demonstração, mas mostração.

Ao fim do subcapítulo dedicado ao noûs, Enrico Berti apontou uma última forma esclarecedora de distingui-lo do lógos: o noûs não procede por meio de demonstração, mas de mostração.

Demonstrar é mostrar uma coisa através ou a partir de outra. Esta outra coisa que funda a demonstração é o principio. O noûs, em contrapartida, mostra a coisa diretamente, sem intermédio de nenhuma outra. E esta coisa que ele mostra é o princípio.

Berti, inclusive, indica a palavra com a qual Aristóteles nomeia esta mostração: delosis, e a traduz por exposição progressiva.

Um exemplo interessante desta mostração não demonstrativa é fornecido pelo próprio Aristóteles, na Metafísica, quando ele se propõe defender a necessidade do princípio de não contradição como condição essencial do pensar e do ser.  

O princípio de não contradição é indemonstrável, por algumas razões. A primeira delas decorre do próprio fato de ele ser princípio: um principio não pode ser demonstrado, pois, se o fosse, aquilo com que se o demonstraria é que seria o verdadeiro princípio.

Acrescente-se a isto que a não contradição é um princípio supremo, universalíssimo, do pensar e do ser na cosmovisão do Estagirita; afinal, pensar e dizer é já pensar e dizer coisas não contraditórias.

Porém, a mesma impossibilidade de demonstrar tal princípio implica a impossibilidade de o refutar. 
Quem o tentasse fazer, precisaria já utilizá-lo para argumentar contra ele.

Aristóteles vai mais além, e diz que o oponente sequer precisa enunciar uma frase: basta que ele diga uma palavra, pois até os termos e conceitos nucleares das proposições precisam ser não contraditórios.


Assim, basta que o adversário diga algo para que Aristóteles aí mostre a não contradição, na própria fala deste.  

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