A ausência do conceito de sistema nos primórdios do Cristianismo

       Por Thiago El-Chami





O conceito de sistema – em verdade, mas uma noção vaga do que um efetivo conceito – transige do final da Antiguidade à Idade Moderna sem grandes modificações, apenas com diferentes aplicações pela filosofia cristã e pela teologia medieval.

O cristianismo, por seu cunho essencialmente moral, manteve a separação entre natureza e homem, que entre os romanos se expressava na qualificação dos recursos naturais como res nullius, ou seja, bens passíveis de utilização ilimitada. Esta cisão impedia a consideração da realidade como um Kosmós, como um Universum, uma vez que simplesmente criava um abismo entre o espiritual e o material.

Os cristãos, com base no evangelho, e já em suas primeiras interpretações teológicas, afirmaram a identidade e a unidade espiritual entre o Pai e Filho; mas, por não ter o Jesus histórico realizado considerações específicas sobre a natureza, tiveram que recepcionar a cosmogonia judaica, com as idéias de Criação e de Paraíso.

Estas concepções projetam, no plano jurídico, a idéia de direito divino, e no natural, a idéia da natureza como conjunto de objetos e seres criados (a alegoria dos sete dias da Criação), unidos não por sistema natural, mas pelo plano divino, que visaria ao usufruto paradisíaco do homem sobre os recursos naturais.

Evidentemente, o posterior desenvolvimento da civilização cristã, com sua rica cultura livresca e sua forte pujança doutrinal, acabou se aproximando da noção de sistema e da práxis sistemática, mas sempre de forma extrínseca, como um modo de articular didaticamente a multitude dos conhecimentos e das artes, nem todos reconduzíveis a princípios comuns. Mas seria preciso esperar até a modernidade para que a natureza, a história, a organização social, as obras humanas e muitos outros aspectos da realidade fossem efetivamente contemplados sob a perspectiva do sistema.



 

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