Após o Discurso de Hípias sobre Homero, Sócrates lhe pergunta qual dois dois heróis é mais louvável: se o Aquiles da Ilíada, ou se Ulisses da Odisséia.
Este garante responder, pois não teme nem mesmo discursar no templo durante as Olimpíadas. E Sócrates louva a coragem de Hípias em Olímpia, bem como sua autoconfiança (quanto ao intelecto), invejável até mesmo para os atletas do corpo.
Hípias diz ser Aquiles o mais corajoso, Nestor o mais sábio e Ulisses o mais astuto, "hábil" ou falso.
Sócrates indaga se Aquiles é falso ou hábil, e Hípias prova textualmente que não.
Sócrates indaga se o indivíduo hábil é falso, e o outro concorda. Se o homem verdadeiro e o homem falso são opostos, e Hípias concorda de novo.
Pergunta se os falsos são como os doentes, incapazes de fazer alguma ou muitas coisas. Hípias discorda, afirmando-o capazes de muita coisa, inclusive enganar. Que têm habilidade e poder, decorrentes não de loucura ou estupidez, mas de certa espécie de inteligência.
Questionado se, como inteligentes, sabem o que estão fazendo, afirma que sim, e que é por isso que causam dano.
Questionado se são sábios, diz que o são nisto: em enganar.
Sócrates recapitula, e faz Hípias reafirmar que os falsos se incluem entre os que possuem certo poder e são sábios. Daí, conclui que se um homem com poder de dizer falsidades, mas ignorante, não é falso. Hípias concorda.
Sócrates objeta que quem pode fazer o que deseja, quando deseja, tem poder. E acrescenta que o mais sábio tem mais poder e é o melhor na matéria que domina. Hípias concorda.
Sócrates acrescenta que o sábio tem mais poder de falsear, pois o ignorante o faz involuntariamente, e o sábio por deliberação. Logo, o homem mais verdadeiro e o mais falso são o mesmo, não sendo opostos completos. Ironicamente, passa em revista todas as ciências que Hípias diz dominar, e o faz reiterar que em todas é assim também.
Daí, manda-o extrair as consequências do raciocínio, e Hípias diz não poder, de imediato, por não recordar de todos os passos, donde Sócrates ironiza acerca da mnemotécnica deste, afirmando que Hípias não a julga necessária (senão teria lembrado).
Para Sócrates, a consequência é que tanto Aquiles quanto Ulisses são verdadeiros e falsos ao mesmo tempo.
Hípias retruca que Sócrates elabora argumentos intricados e que seleciona a parte mais difícil deles, prendendo-se a minúcias e não tratando o objeto como um todo. Propõe demonstrar com argumentos baseados em evidências a tese inicial.
Sócrates ironiza dizendo que só questiona o discurso de quem julga sábio. E aduz um trecho em que Aquiles teria mentido. Hípias diz que a inverdade de Aquiles é involuntária – ele faz o contrário do que anunciou por causa do desastre, enquanto Ulisses o faz intencionalmente.
Sócrates aduz outro exemplo, e Hípias defende de novo Aquiles, dizendo que mentiu a Ajax por benevolência. E que Ulisses, ao contrário, até quando diz a verdade, tem em mente um plano.
Sócrates então muda a direção do argumento: então Odisseu (Ulisses) é melhor que Aquiles, pois quem mente voluntariamente é mais sábio. Hípias diz que o falso involuntário é melhor, e merece indulgência, enquanto o voluntário não.
Sócrates ironiza, afirmando delirar. Hípias discorda veementemente, acusando-o de criar confusões deliberadamente, e Sócrates ironiza uma vez mais, defendendo-se a dizer que cria confusões involuntárias, por ignorância, pedindo a indulgência de Hípias para si, suplicando-lhe continuar a responder perguntas.
Concentram-se então na questão específica: se são melhores os que erram voluntariamente ou involuntariamente.
Concordam que o bom corredor é célere e o mau corredor é lento.
Que o bom corredor é lento quando quer, e o mau corredor o é involuntariamente.
Daí, Sócrates aduz que quem corre mal faz algo vergonhoso. Pondera que o lento corre mal, e conclui que o bom corredor faz este ato mau voluntariamente. E infere que o lento involuntário é pior do que o voluntário.
Prossegue concluindo que o bom lutador é derrubado voluntariamente, que o elegante adota má postura porque quer, que o bom pé coxeia voluntariamente e o bom olho enxerga impreciso quando quer.
Conclui então que as partes que atuam mal involuntariamente são indesejáveis, e as que atuam mal voluntariamente são desejáveis. Estende isso aos animais e à alma. Hípias concorda.
Sócrates mostra que, assim, os que fazem o mal voluntariamente são melhores que os involuntários. Hípias rejeita, e Sócrates ironiza.
Sócrates adota nova linha, e investiga se a justiça é um poder e um saber. Ambos concordam que o mais justo é quem mais pode e mais conhece.
Daí Sócrates aduz que o justo cometerá injustiça voluntariamente, quando o cometer. Hípias recusa, e Sócrates conclui ironicamente que se o sábio oscila nestas matérias, assim como os ignorantes, eis algo horrível.
O diálogo termina, pois, aporeticamente.
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