Nas moradas primeiras, quase nada chega da luz da sala do Rei. Mas não porque sejam escuras e sujas, mas porque entram nelas tantos bichos e serpentes que obstruem a luz.
É o caso da alma que, mesmo não estanto em mau estado, permanece presa aos negócios do mundo, dinheiro, honras e atribulações.
Para chegar às segundas moradas, cada um há que se livrar de todos os negócios que sejam dispensáveis.
E é tão urgente começar logo que a demora torna a coisa impossível. Aliás, fica até difícil permanecer na primeira morada, pois, com tantos bichos lá dentro, é inevitável ser mordido vez por outra.
E muito cuidado há que ter os que já adentram moradas mais interiores e secretas, para não retornar às barafundas externas. Guardai-vos de cuidados alheios e de zelos indiscretos da vida alheia.
Nas moradas mais interiores, os sentinelas já têm força pra pelejar. Mas o problema aí é o inimigo aparecer travestido de anjo de luz. Entra aos poucos, e quando se nota, o mal está feito.
Aqui, Teresa dá alguns exemplos relativos ao convento.
É o caso da irmã que superestima a penitência, e quer fazê-la até quando a Superior a proíbe, secretamente, e arruína sua saúde.
É o caso da irmã que superestima a Perfeição, e julga grande erro qualquer faltinha de suas irmãs, tudo denunciando à Superior, passando a vigiar todas e a esquecer de si própria.
Em tais casos, o que o inimigo pretende é esfriar a caridade e amor de uns com os outros.
Muita vez, aliás, se julgará erro o que nem mesmo o é.
Por certo, não se há de deixar de avisar o mal que se nota. Calar sobre tudo, sempre, para evitar a tentação, já é a própria tentação.
Mas se avise primeiro à pessoa, e depois, se ela não se emendar, ao superior. Isto é caridade.
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