Conceitos Fundamentais da Filosofia - 1ª Parte. 7. O ser-aí e o não-ser-aí da Tonalidade Afetiva, a partir do Dasein

 Na última seção (c) do §16, Heidegger buscará a via correta para a compreensão do fenômeno das Tonalidades Afetivas, bem como do seu adequado despertar. Se a via da consciência (e inconsciência) não lhe foi bastante, porque remetia a domínios ônticos muito amplos para serem estudados numa caracterização prévia, eis que o acesso direto ao homem é o caminho ideal para realizar esta tarefa.

Assim, à luz da interpretação ontológica de Ser e Tempo, segundo a qual o homem é um ente que possui o modo de ser do Dasein ou ser-aí, eis que Heidegger parte dos conceitos de ser-aí e seu correlativo (ser-fora, ou ser ausente), para investigar a estrutura e contextura das TA.

O homem não é um ser simplesmente dado (Vorhandenheit). Este, o dado, está simplesmente aí, está aí de maneira simples, unívoca, não ambígua. Mais precisamente, ele está aí somente na perspectiva ôntica. Ontologicamente, ele não está aí, porque ele é dado. Só o homem, verdadeiramente, está aí, no mundo, junto aos entes dados (coisas) e aos manuais (instrumentos, utensílios), e com os outros homens.

Todavia, justamente porque, ontologicamente, está aí, o homem também pode não estar aí. Alguém pode estar aqui, à mesa conosco, e contudo ausente, distante. Fora.

Estar fora é ainda ocupar-se consigo mesmo, é estar ausente e ali – ainda que ativo.

O homem é sempre ser-aí e, por isto, de algum modo, ser-fora. Tanto o ser-aí quanto o ser-fora podem assumir as possibilidades da consciência e da inconsciência. O louco é alguém que está plenamente consciente, no entanto, está fora de si.

Esta dupla valência ontológica, ser-aí e ser-fora, bem como a dupla possibilidade ôntica, estar consciente e estar inconsciente, hão de ser o solo sobre o qual fundar a compreensão das TA, coisa que o fará o §17 do texto. Antes disso, Heidegger faz uma constatação: Tonalidades Afetivas são, aparentemente, o que mais muda no homem. E então realiza um questionamento provocador: serão o brilho cintilante que ilumina nosso ser-aí, ou a sombra das nuvens que o envolve totalmente desde cima?



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