Matamos o tempo para matar o tédio, para nos tornarmos senhores
dele, diz Heidegger. O fazemos porque o tempo se torna longo para
nós.
Mas
o filósofo pergunta: e ele, acaso, deve ser curto? Não é
justamente um tempo longo o que todos desejam para si mesmos?
Heidegger
então recorda um uso linguístico alemão, no qual “ter um tempo
longo” equivale a “ter saudades da pátria”. É algo semelhante
como o nosso dito “estar fora de casa” ou “estar deslocado”,
usado para a sensação de distanciamento em face de um lugar ou
tempo que não é o nosso.
Em
todos estes casos, o tédio é a TA fundamental.
Mas,
o que fazer para compreender isto? Trata-se de colocar, diante do
tempo, sentimentos do tempo ou sobre o tempo (um deles, neste caso)?
Deve-se
compreender o tempo para apreender o tédio? Ou o contrário?
Mundo,
finitude, solidão (ou singularização): como estas três questões
se relacionam com o tempo? Como fazê-las irromper a partir desta
Tonalidade Afetiva fundamental, o tédio?
Para
Heidegger, talvez não conheçamos a essência do tédio precisamente
porque ele se tornou essencial para nós.
Tal
tédio profundo nem anima nem desanima. E é tão afinado a nós que
nem parece estar aí.
Para
chegar nele, não há que se empreender nada. Mas, por quê? Porque,
em relação a ele, já sempre se empreendeu demais, já sempre se
buscou evadi-lo, expulsá-lo.
É
preciso aprender, pois, este não-se-contrapor, mediante um
deixar-ressoar.
Para
isto, é preciso aproximar-se dele. Devemos tirá-lo de sua
indeterminação.
Contudo,
isto não deve ser feito por dissecação de vivências anímicas
(entes simplesmente dados na consciência), mas por uma aproximação
de nós mesmos, enquanto seres-aí. Ambiguidade...
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