Conceitos Fundamentais da Metafísica - 1ª Parte. 13. A interpretação do tédio a partir do passatempo.

 A descoberta de que a Tonalidade Afetiva é sempre uma realidade híbrida, parte subjetiva, parte objetiva, causa perplexidade. Como a explicar que o tédio está no ser-aí e nas cosias à sua volta? Para lograr este fim, Heidegger apresenta duas instruções metodológicas:

1 – Evitar a postura analítica em relação à consciência

2 – Manter a imediateidade do ser-aí cotidiano

Com base nestas duas indicações, ele indaga o que é o tédio, respondendo de antemão: não é uma relação de causa-efeito.

Em seguida, recomenda: não busquemos o tédio como algo que vem por si, mas o vejamos na direção oposta: ali onde nos livramos dele. No passatempo.
 
Para Heidegger, o passatempo não é uma segunda vivência que acoplamos contra a vivência do tédio, mas situação arraigada na qual nos movimentamos, frequentemente. Estamos, sempre, a tentar afugentar o tédio pelo passatempo. Não surge primeiro o tédio e depois o passatempo, mas já sempre o tédio já se encontra em meio à tentativa de expulsão pelo passatempo.

Cumprir as instruções metodológicas acima, evitar enfoques artificiais e manter a imediateidade do ser-aí cotidiano é apreender o passatempo na sua originariedade, como situação, e não como uma providência eventual contra o tédio. No passatempo, o tédio vem ao nosso encontro, sem disfarces.

A serenidade vazia da visada cotidiana livre, da apreensão imediata e não teórica da cotidianidade, é mais difícil que a apreensão de novas teorias, pois estamos impregnados delas na compreensão mais imediata, e na significação vocabular das palavras que usamos. Aproximar-se daquela é afastar-se destas.

Só assim se pode compreender o entediar-se junto a algo como o despontar do tédio como horizonte no qual tudo, aos poucos, se torna entediante. Isto ficará mais claro a partir do tópico seguinte, dedicado ao ser-entediado em sua relação com o passatempo.


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