A descoberta de que a Tonalidade Afetiva é sempre uma realidade
híbrida, parte subjetiva, parte objetiva, causa perplexidade. Como a
explicar que o tédio está no ser-aí e nas cosias à sua volta?
Para lograr este fim, Heidegger apresenta duas instruções
metodológicas:
1 – Evitar a postura analítica em relação à consciência
2 – Manter a imediateidade do ser-aí cotidiano
Com base nestas duas indicações, ele indaga o que é o tédio,
respondendo de antemão: não é uma relação de causa-efeito.
Em seguida, recomenda: não busquemos o tédio como algo que vem por
si, mas o vejamos na direção oposta: ali onde nos livramos dele. No
passatempo.
Para Heidegger, o passatempo não é uma segunda vivência que
acoplamos contra a vivência do tédio, mas situação arraigada na
qual nos movimentamos, frequentemente. Estamos, sempre, a tentar
afugentar o tédio pelo passatempo. Não surge primeiro o tédio e
depois o passatempo, mas já sempre o tédio já se encontra em meio
à tentativa de expulsão pelo passatempo.
Cumprir as instruções metodológicas acima, evitar enfoques
artificiais e manter a imediateidade do ser-aí cotidiano é
apreender o passatempo na sua originariedade, como situação, e não
como uma providência eventual contra o tédio. No passatempo, o
tédio vem ao nosso encontro, sem disfarces.
A serenidade vazia da visada cotidiana livre, da apreensão imediata
e não teórica da cotidianidade, é mais difícil que a apreensão
de novas teorias, pois estamos impregnados delas na compreensão mais
imediata, e na significação vocabular das palavras que usamos.
Aproximar-se daquela é afastar-se destas.
Só assim se pode compreender o entediar-se junto a algo como o
despontar do tédio como horizonte no qual tudo, aos poucos, se torna
entediante. Isto ficará mais claro a partir do tópico seguinte,
dedicado ao ser-entediado em sua relação com o passatempo.
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