Heidegger avança na caracterização do despertar de uma Tonalidade
Afetiva ao fixar que o tal despertar, se não é um constatar
passivo, também não é um provocar ativo. Este último é
correlativo do primeiro, e é o que ocorre, por exemplo, quando o
cientista quer constatar um fenômeno que se oculta à observação:
provoca-o por meio de uma experiência controlada e previamente
planejada para tanto.
Provocar ativamente uma TA seria distorcê-la, seja perdendo-a em
favor de uma representação qualquer afetivamente figurada, seja
alterando-a e fazendo eclodir uma outra tonalidade afetiva em seu
lugar.
Despertar há de ser um consenso mútuo. Pode parecer estranho um
consenso entre um homem e uma tonalidade afetiva. Como poderei
concordar com a angústia ou com a serenidade?
Mas, quando se recorda que as TA também possuem o modo de ser do
Dasein, a perplexidade se dissipa. De alguma forma, é possível
pôr-se à sua escuta, e fazer com que falem. Para isto, aliás, em
muito servirá o arsenal metodológico da fenomenologia que, na
interpretação Heideggeriana, procura deixar e fazer ver o fenômeno,
entendido este (o fenômeno) como “aquilo que se mostra em si
mesmo”. Concordar com um fenômeno é permitir que ele se mostre.
Concordar com uma TA é permitir o seu mostrar-se específico, que é
o despertar.
É neste sentido específico que o concordar uma uma TA toma a forma
de um acordo mútuo, de uma harmonia. Acordo mútuo, porque o
fenômeno da TA se mostrará, garantidas as condições do
asseguramento de um adequado acesso a ele. Harmonia, como a harmonia
de uma música, na qual a “melodia” de uma tonalidade afetiva
(fenômeno) coincide com o ritmo do discurso que a exprime (lógos),
realizando-se uma profícua fenomenologia.
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