Após a
identificação do tédio profundo como a provável Tonalidade
Afetiva fundamental do ser-aí vigente ao tempo da preleção (1929,
na Europa), Heidegger se dedica à tarefa de providenciar o despertar
desta TA.
Assim, o
§19 tratará
a) da
questionabilidade do tédio, da possibilidade de acessá-lo
investigativamente.
b) Do despertar desta
TA fundamental
No tocante à primeira
finalidade, Heidegger ressalta que questionar o tédio tem a
particularidade de ser algo quase paradoxal, pois ele é o tipo de TA
da qual tomamos conhecimento na medida em que não queremos dela
saber. O tédio sempre é defrontado como algo do qual sempre se está
a evadir, a fugir. Ou seja, quase nunca nos defrontamos com o tédio.
Como questioná-lo?
Em face
desta dificuldade, surge a segunda intenção do parágrafo em tela.
No caso do tédio, e provavelmente de outras TA, não basta despertar
a TA, ou melhor, não basta considerar este despertar como um simples
acordar. Esta TA já está acordada e em vias de adormecimento,
estamos sempre buscando adormecê-la. O despertar do tédio,
portanto, há que assumir a forma de um 'protegê-lo contra o
adormecimento'.
Assim,
questionamos o tédio por não sabemos com certeza se ele está nos
transpassando. Mas este não saber é constitutivo de nossa situação,
pois nos evadimos dele.
No tédio,
o tempo se alonga. Passa devagar. Por isto, buscamos a evasão do
tédio pelo passar do tempo. O passatempo, portanto, não se destina
a passar o tempo, mas a passar o tédio que o apodera.
Porém,
não estamos em condições de afugentá-lo por passatempos eficazes,
pois ele pode voltar a cada instante: ou seja, já está aí,
profundamente. Basta só o ensejo de sua eclosão à tona.
Nós não
nos livramos dele: o adormecemos. Mas ele não dormiu: já está lá,
acordado, à distância, olhando para o nosso ser-aí.
Despertá-lo,
enquanto um proteger contra o adormecimento, parece mesmo algo
contrário a todo comportamento saudável e espontâneo.
Quem é
que não sabe que ele persiste, amiúde, quando se tem todos os meios
de expulsá-lo? Que ele então retorna mais insistente e nos arrasta
até a melancolia?
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