Após uma longa introdução, intitulada "Considerações prévias", na qual Heidegger elucida as tarefas desta preleção e a postura fundamental para enfrentá-las, eis que a análise propriamente dita dos Conceitos Fundamentais da Metafísica se inicia, e o faz com uma investigação prévia sobre a "Tonalidade Afetiva" (Bestimmung) mais adequada para ensejar a abertura compreensiva exigida pela questão.
Lembre-se que esta abertura, para Heidegger, só é possível a partir do horizonte de nosso ser-aí, horizonte diante do qual estamos dis-postos de uma maneira particular, determinada pela Tradição que nos lançou aí num repertório de possibilidades, diante das quais nos situamos e encontramos de início e na maioria das vezes, até que ocorra ou não o advento de uma de-cisão fundamental, a partir da qual podemos assumir o nosso poder-ser mais próprio, uma existência autêntica.
Em todo caso, em qualquer modo de existência, o homem, enquanto ser-aí (Dasein), sempre estará afinado por alguma Tonalidade Afetiva: esta é a tese preliminar desta preleção. Em Ser e Tempo, Heidegger diz, ao analisar a disposição (Befindlichkeit), que o Dasein já está sempre em algum estado "de humor" (Stimmung). Agora ele completa: e sempre afinado por uma Tonalidade Afetiva (Bestimmung).
Assim, a Primeira Parte da obra se intitula "O Despertar de uma tonalidade afetiva fundamental do nosso filosofar". E o seu primeiro capítulo se destina a clarificar "a tarefa do despertar de uma tonalidade afetiva fundamental" e oferecer a "indicação de uma tonalidade afetiva fundamental velada de nosso ser-aí atual".
Tem-se aí, duas tarefas de início. Heidegger defenderá que este fenômeno da 'tonalidade afetiva' deve ser despertado, para o que ele haverá de explicar em que consiste o tal fenômeno.
Feito isto, e já que há que se despertar a tonalidade afetiva (T.A), Heidegger não procederá ao acaso: ele buscará despertar uma tonalidade que, no seu entender, está velada no ser-aí da época na qual ele realiza esta preleção (1929).
Esta dupla tarefa se desdobrará em três parágrafos.
O §16 se destinará a tornar patente o sentido do despertar de uma tonalidade afetiva fundamental. Para tanto, comportará uma seção (a) para pontuar que o despertar não é uma constatação intelectiva de um "ser simplesmente dado" (Vorhandenheit), mas um "deixar o que dorme vir a estar acordado". Não se trata de uma cognição, portanto, mas de algo mais próximo de uma atitude ou conduta.
O mesmo parágrafo contará, ainda, uma seção (b), cuja missão é evidenciar que o ser-aí e o não-ser-aí da tonalidade afetiva não se deixam apreender através de outra distinção, a do ter-consciência e da inconsciência.
Finalmente, após este esclarecimento, ele conclui o parágrafo a dizer, na seção (c), que o ser-aí e o não-ser-aí da T.A. repousa sobre um fundamento: o ser do homem, entendido aí duplamente como um ser-aí e um ser-fora (ser ausente).
O §17 dará conta de uma "caracterização prévia do fenômeno da tonalidade afetiva". Pertence ao método de Heidegger a realização de uma abordagem preliminar, por meio de caracterizações prévias, as quais descortinam traços fundamentais do fenômeno, a partir dos quais se elabora uma analítica mais detalhada, à luz da qual o próprio fenenômeno é depois reinterpretado numa análise temática aprofundadora.
Nesta caracterização prévia, Heidegger apontará duas indicações importantes sobre a T.A.: elas são o modo fundamental do ser-aí, e são o que dotam o ser-aí de consistência e possibilidade.
Ainda neste tópico, ele fornecerá outra indicação, desta vez sobre o despertar da TA, asseverando que ele corresponde à apreensão do ser-aí enquanto ser-aí.
Finalmente, o §18 explicitará os dois pressupostos necessários para o despertar da TA fundamental. O primeiro é o "asseguramento da conjuntura atual", ou seja, do solo no qual a TA desperta. E o segundo é o asseguramento da TA fundamental que o rege, para que então se possa despertá-la. Isto é feito em três passos:
seção(a): apresenta quatro diferentes interpretações da situação atual (da época da preleção), todas marcadas pela tônica comum da contradição entre vida e espírito, realizadas por Oswald Spengler, ludwig Klages, Max Scheler e Leopol Ziegler.
Seção (b): reconduz as quatro interpretações antinômicas acima à oposição nietzscheasa entre o dionisíaco e o apolíneo.
Seção (c): afirma que o tédio é a TA fundamental velada nas quatro interpretações.
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