Para além da impossibilidade subjetiva da constação
de uma tonalidade afetiva (pois ela não é um objeto); bem como para
além da impossibilidade intersubjetiva de provocá-la em si ou no
outro, ativa ou coativamente, eis que há uma terceira
impossibilidade: a de provocá-la através de artifícios, de
produzi-la artificialmente.
Poderia parecer uma obviedade insanável uma observação desta
natureza – e, em verdade, o é. Todavia, nestes tempos de
felicidade artificial, e de (pretenso) controle químico dos
comportamentos e emoções humanas, é oportuno ressaltar que a
tonalidade afetiva não é candidata a ser mais um item do
supermercado medicamentoso ou tecno-terápico.
A bem da verdade, ela consiste até em um ponto de apoio para a
defesa da vanidade e da estupidez de um propósito tal, que converte
até os elementos mais próprios do ser-aí do homem, em entes
simplesmente dados, quando não em entes completamente à mão ao
modo da manipulação instrumental.
É possível provocar o cansaço mediante um programa artificial
(elaborado cientificamente) de exercícios, de movimentos
não-naturais em sequência hipertrofiada. Mas não se provoca com
ele a apatia.
É possível provocar a disposição física mediante um aquecimento
prévio. Mas não se provoca com ela a vontade de malhar.
Tal ocorre com os meios completamente artificiais. Pode-se provocar o
sono com medicamentos ou com aparelhos indutores apropriados. Mas
também não se pode provocar a apatia com ele (ainda que se o possa
a sedação).
Em suma: uma TA não pode ser engendrada, cognitiva, ativa ou
tecnicamente. Ela pode até ser propiciada, pelo asseguramento de
suas condições. Mas há que se cair nela. E este cair é um
acontecimento ontológico, que irrompe das profundezas do ser-aí, e
não um efeito ôntico controlável pelo cálculo de fatores.
O mais extenso conjunto de diligências assecuratórias pode ser
inócuo para acessar uma TA, seja uma 'elevada', seja uma
'deprimente'. E, por ironia, mesmo um incidente banal, ou a
inaparência de um nada-acontecer podem arrastar o homem para o
interior de uma afinação visceral com a TA.
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