O
passatempo é algo que expulsa o tédio estimulando o tempo.
Para compreender isto, Heidegger dá um exemplo bastante elucidativo: a gente, numa longa viagem ferroviária, desce e espera numa
cidadezinha no meio do nada o próximo trem, que só virá daí a
quatro horas.
A região é desprovida de atrativos. Temos um livro na mochila: ler?
Não. Que tal examinar a fundo uma questão? Não dá. Lemos os
horários dos trens ou estudamos as diversas indicações de
distância entre esta estação e outros lugares que não nos são
conhecidos. Olhamos par o relógio – se passaram somente quinze
minutos.
Não há outro jeito senão sair à rua. Andamos de lá para cá
apenas para fazer alguma coisa. Mas não ajuda em nada. Contamos,
assim, as árvores da rua, olhamos novamente para o relógio: cinco
minutos desde que o consultamos a última vez.
Enfadados com o andar de lá pra cá, nos sentamos sobre uma pedra,
desenhamos todos os tipos de figuras na areia e nos surpreendemos
olhando já uma vez mais para o relógio: meia hora. E assim por
diante.
Este contar as árvores, este tamborilar de dedos, este andar de lá para cá: tudo isto consiste em passatempo.
Passatempo é aquilo que empregamos para afugentar o tédio, através da tentativa de impulsionar o tempo. Mas, será isto possível? Será que se deve abreviar a estada, a espera?
Este contar as árvores, este tamborilar de dedos, este andar de lá para cá: tudo isto consiste em passatempo.
Passatempo é aquilo que empregamos para afugentar o tédio, através da tentativa de impulsionar o tempo. Mas, será isto possível? Será que se deve abreviar a estada, a espera?
A princípio, pode-se pensar que o esperar é a coisa entediante.
Porém, uma espera pode ser cheia de emoção.
O que entedia é mais a necessidade de esperar que a própria espera.
E, a rigor, mais a impaciência acarretada pela necessidade do que
ela mesma.
Tende-se então a igualar tédio e impaciência. Porém, o tédio é
outra coisa. Não há um tédio paciente nem impaciente. A
impaciência diz a respeito de como nos queremos assenhorar do tédio
e de, frequentemente, não podermos fazê-lo.
Há, pois, uma unidade essencial entre o tédio e o passatempo. Não
uma decisão eventual de adotar a este para dar conta daquele.
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