O parágrafo 18 de Conceitos Fundamentais da Metafísica
trata do asseguramento das duas condições que Heidegger considera
fundamentais para o despertar da Tonalidade Afetiva fundamental: a
identificação da conjuntura vigente, e a identificação de qual é
a TA fundamental que nos atravessa e domina, pois é ela que deve ser
despertada.
Para ratificar a necessidade disto, Heidegger graceja dizendo que o
despertar de uma TA não é algo que se possa lograr assim, sem mais,
como o colher de uma flor.
Para fazê-lo então, ele procura fazer, na seção (a) um
diagnóstico da conjuntura, de modo a cumprir a primeira tarefa.
Nisto, ele evoca quatro interpretações fundamentais da época,
todas reuníveis sob um denominador comum (a conjuntura), apesar de
suas diferenças. Este denominador seria “a contradição entre
vida (alma) e espírito, e ocorreria em todos os quadrantes da
civilização, dos quais ele destaca:
Oswald Spengler – o declínio do Espírito junto à Vida, proposto
por ele em sua obra fundamental “O Declínio do Ocidente”, que
mostra a morte da civilização (Espírito) européia.
Ludwig Klages – enxerga a mesma sobrepujança da Vida em face do
Espírito, mas não a vê como uma decadência deste, mas como uma
luta da Vida contra o Espírito, da Natureza contra a Cultura, em sua
obra “O Espírito enquanto adversário da Alma”.
Max Scheler - observa o mesmo processo ascensional da vida e
descensional do Espírito, mas não como declínio ou luta, mas como
aproximação a um estado de equilíbrio. Obra: o Homem na Era do
equilíbrio.
Leopold Ziegler – comparte a visão dos anteriores, mas propõe o
advento de uma nova Idade Média, não no sentido de regresso, mas de
mediação, de suspensão temporária da contradição entre Vida e
Espírito. Sua obra: O Espírito Europeu.
Apresentado este panorama, Heidegger sugere, na seção (b) deste
parágrafo, que o tema comum da contradição entre Vida e Espírito
provém de Nietzsche, e sua oposição do Dionisíaco ao Apolíneo.
Finalmente, na seção final (c), Heidegger conclui que o recurso à
filosofia da cultura foi inútil, vez que nenhuma das interpretações
nos comove ou detém. Ela apresenta a conjuntura, mas não toca a
Tonalidade Afetiva fundamental. Ela não nos afina. E o que é pior:
nos desconecta, na medida em que nos atribui um papel na História do
Mundo.
Obviamente, recorde-se que Heidegger fala à Europa do fim da década
de XX, mas a tese fundamental subsiste: a filosofia da cultura, a
análise comparativa do ser-aí lançado no mundo em culturas
diversas, em vez que afinar-nos, nos desafina, se não é precedida
por uma analítica própria do ser-aí em si mesmo. Pelo contrário,
a compreensão superficial das outras culturas tende a obstruir o
acesso a uma auto-compreensão originária do Dasein em sua
específica Tradição.
Desenraizamento, fuga, equívoco, aparência, ausência de
direcionamento. Indiferença bocejante diante de todas as coisas. E
eis que então se insinua o tédio, como “nuvem silenciosa
sobre os abismos do ser-aí”. É a ele que Heidegger procurará
investigar, para saber se o há de despertar e interpelar, e sobre
como o fará, se for o caso.
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