O Conceito de Sistema, de Wolf a Lambert - do nexo à regra

Por Thiago El-Chami


Com a transição do Renascimento, entre os sécs. XIV-XVI, e da Revolução Científica do séc. XVII, o dogmatismo fideísta católico fora sobrepujado pelo ceticismo racionalista cartesianoi. Os critérios de evidência, coerência, validade foram exigidos do saber científico, que se mostrava como o único indubitável por assentar na razão e no método.

Além disso, a derrubada de alicerces do pensamento antigo como a astronomia ptolemaica e a física aristotélica exigiu da ciência, como contrapartida, o fornecimento de uma nova visão global de mundo, na qual a natureza se resume no binário espaço e tempo / matéria e força, regido por um conjunto finito de leis.

Os efeitos de tal processo radicam notadamente no recrudescimento da perspectiva sistemática, com implicações que até hoje se fazem sentir em todos os ramos do conhecimento, desde as ciências naturais até as ciências humanas. Mais do que isto: entre os séculos XVII e XVIII surgiram as primeiras formulações genuinamente filosóficas a respeito do sistema.

Assim, vê-se em Wolff a idéia de sistema não como mero agregado de verdades, mas como “nexus veritatum” (nexo verificador) que unifica metodicamente o saber num todo orgânico rigoroso e coerente, que corresponde ao significado contextual hodierno do termoii.



Observa-se, em Johann Heinrich Lambert, o conceito em sua formulação já clássica, na qual se trata de um todo fechado, "onde a relação das partes com o todo e das partes entre si estão perfeitamente determinadas segundo regras lógicas de dedução”iii.



É interessante contrapor estas duas perspectivas, uma vez que ambas apreendem o conceito em diferentes momentos. Wolf capta o sistema em sua gênese, a partir do nexo que o articula e o faz funcionar unitariamente. Lambert, por sua vez, flagra-o no seu acabemento, já na plenitude de sua manifestação, já erigido em robusta totalidade. São duas das muitas formas possíveis de analisá-lo, as quais, ao invés de se oporem, irão dialogar de maneira fecunda, formando dois cursos de investigação que irão culminar, juntos, na futura Teoria Geral dos Sistemas.

i Sobre o Humanismo Renascentista cf. VAZ, Antropologi Filosófica I, Vozes, 2006, pp. 65-70. E sobre a passagem deste ao Racionalismo Moderno, vide a mesma obra, pp. 71 e ss.


ii Cf., a respeito da idéia de sistema em Wolf, LOSANO, Mario. G. Sistema e Estrutura no Direito. Vol I. São Paulo: Matins Fontes, p. 103 e ss. Sobre a idéia de nexus veritatum em particular, vide a mesma obra, à p. 98

iii Lambert pode ser considerado o pai da moderna Teoria dos Sistemas. Entre seus escritos póstumos, encontrou-se fragmentos de uma obra que deveria se chamar Systematologie. Cf. LOSANO, op. cit., pp. 116-127.

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