A passagem da sanguinidade para a
sexualidade
Com sua argúcia costumeira,
Foucault ressalta que o sangue sempre teve relevância simbólica e prática para
o poder.
Primeiro, por causa das castas, alianças, ordens que constituem as
sociedades estáticas, estamentais. Mas também pelos eventos de mortandade,
peste, fome que marcam os povos.
Além disso, o sangue representa a
fragilidade da vida humana, sua facilidade em ser derramado. Indica
funcionalidade (ter um sangue, ser do mesmo sangue, arriscar o próprio sangue).
E é um elemento instrumental (algo que o poder pode arrancar).
O sangue traz em si a potência da
morte. Por isto seu status central numa sociedade punitiva.
Contudo, com a valorização do elemento
vital, com a disciplina dos corpos e com a regulação das populações, com a
sociedade normalizadora, eis que o eixo se desloca da morte para o nascimento,
da destruição para a criação.
Do sangue para o sexo.
Assim, o poder agora se
preocupará com raça, saúde, progenitude, futuro da espécie, vitalidade do corpo
social.
Foucault resume este processo
dizendo que nossas sociedades passaram de uma simbólica do sangue para uma
analítica da sexualidade.
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