Vigiar e Punir - O acampamento militar como modelo ideal de vigilância hierárquica

O acampamento militar como modelo ideal de vigilância hierárquica

Para estabelecer uma vigilância sobre uma coletividade de indivíduos, eis que a observação requer que o mecanismo de inspeção seja vertical, ou seja, que ele atue de cima para baixo. Todavia, o olhar panorâmico incorre no risco de ver a floresta sem ver as árvores, de apreciar a multidão como totalidade e descurar do indivíduo. A fim de evitar este risco, o sistema de vigilância deveria desenvolver-se num escalonamento progressivo de olhares cada vez mais próximos do indivíduo concreto. E o modelo ideal para isto, segundo Foucault, foi tomado a partir do acampamento militar.

O acampamento é uma cidade artificial. Ele não emerge naturalmente do fato do viver comunitário: ele se impõe a este viver comunal a partir de fora, como algo que perturba a espontaneidade do convívio instaurando regras a serem cumpridas.

Além disso, é uma cidade apressada. Precisa ser facilmente construível, capaz de ser montada e posta em funcionamento em curto lapso de tempo. Pela mesma razão, deve ser prontamente remodelável, pois que necessidades específicas, urgências do momento, operações emergentes podem reclamar a disponibilização de forças em sentido diferente do que estava em vigor.

Destacam-se também a orientação geométrica dos indivíduos, essencial para a articulação de um diagrama de poder, no qual diversos sujeitos observadores, em diversos níveis, atuam de modo integrado.


Segundo Foucault, este modelo militar foi seguido por muito tempo na construção de cidades operárias, prisões, asilos, hospitais, casas de educação.  

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