A Oração como ato de silenciar

A Oração como ato de silenciar


Seria a oração um não pensar? A indagação assume ares de imensa gravidade quando nos recordamos de que homem, já há muito tempo, compreende a si mesmo a partir do pensamento, como uma criatura que pensa.

Se a Oração não é pensamento, ela então é algo que, de alguma maneira, ou destoa ou vai além da natureza humana.

Repitamos o que foi dito, agora de modo afirmativo: orar é um calar e um não pensar. A fala e o pensamento, quando presentes, constituem os meios de expressão daquele que ora.

Quanto ao calar, talvez seja menos problemático. Mas compreender a oração como um não pensar: como é possível?

Concentremos as duas partes da nossa afirmação numa idéia mais simples e mais radical: orar é silenciar. Silenciar a voz e o pensamento.

Alguma luz começa a brilhar aqui: silenciar a voz e o pensamento é calar o corpo e a alma.

Isto parece contrariar a nossa compreensão cotidiana da prece. Ora, parece que se trata, antes, de um silenciar o corpo para que a alma fale com Deus.

Uma alma tagarela, no entanto, está cheia de si: como poderia ela falar a Deus?

A partir desta compreensão, vemos que a impressão inicial não estava totalmente equivocada, mas apenas distorcida. Deus talvez espere, de nós, o silêncio: mas isto não porque não se deva recorrer à prece, e sim porque silenciar é orar.

Não sendo, em si mesma, silêncio, a Oração é o caminho que nos conduz a ele.

Por isto mesmo, ela parte da palavra e do pensamento, abandonando-os aos poucos, reduzindo-os ao completo aniquilamento.

Com a permissão do neologismo, diremos que orar é um progressivo des-falar e des-pensar. Ela parte de muitas palavras e idéias, chegando a uma palavra-idéia final, antes de calar-se. Esta é, precisamente, a função do Amém, junto ao qual se chega, finalmente, ao Silêncio.

Quando palavra e pensamento calam, corpo e alma descansam para despertar o Espírito.


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