Livro dos Espíritos - Livro I - 4 – Fenômeno e Criação


Retornemos, pois. No caso da Criação Divina, não podemos falar de uma Técnica do Criador, como um conjunto de artifícios com os quais ele modificou a natureza primigênia. No limite, a Técnica de Deus é a própria Natureza, e não algo externo a ela ou dela distinto.

Com isto, a palavra Técnica se mostra inadequada para tratar da Criação divina, permitindo-nos um uso apenas analógico.

Até mesmo a palavra Natureza se revela precária para tal intento, na medida em que entendemos por natural, no comum das vezes, como aquilo que não foi feito pelo homem, aquilo que já está aí no mundo, a realidade como ela é em si mesma.

Sobretudo na civilização autoproclamada "tecnológica", na qual vivemos, natural é o não fabricado, o não modificado, o não tecnológico. É a porção da realidade ainda não tocada pela Técnica.

Do ponto de vista humano, faz sentido distinguir fenômeno e criação. Fenômeno é tudo aquilo que se manifesta espontaneamente tal qual é em si mesmo, conforme das leis da natureza. Criação é tudo aquilo que foi criado intencionalmente pelo homem, conforme as regras da técnica.


Com referência à Criação divina, a trama sucessiva dos fenômenos, a magnífica e assombrosa dança da Natureza nos palcos do Tempo, é fenômeno e criação. 

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