Para seguir a Cristo, o autor da Nuvem do Não-Saber ressalva: que não o façamos só na Vida ativa, mas igualmente nos altíssimos cumes da Vida Contemplativa.
Se a primeira já é dificílima, o que dizer da segunda? Se viver como um bom cristão no mundo é coisa assaz difícil, quanto mais levar a difícil vida da renúncia, a vida monastérica?
Para um homem do mundo, o contrário pareceria mais verdadeiro: o difícil é agir, é intervir no mundo, é desgastar o corpo. Contemplar seria algo fácil, um retirar-se do mundo, um preservar o corpo.
Todavia, trata-se de uma aparência.
O Contemplativo não se evade totalmente do mundo – senão não poderia agir. Ele permanece no mundo sem ser do mundo.
(O monge vive para contemplar, é certo. Mas é possível contemplar sem ser monge. É possível rezar, estudar, meditar nas breves pausas da Vida Ativa.)
O Contemplativo não meramente preserva o corpo. Ele o desgasta na medida do necessário – mas, sobretudo, desgasta a sua alma no esforço da ascese rumo à contemplação.
(Não é preciso, pois, descansar o corpo para contemplar. Apesar de o homem comum buscar o repouso da mente junto com o do corpo, o Contemplativo fazer do ócio do corpo o cultivo da alma)
Para isto, contudo, duas condições se fazem presentes: uma necessária, outra suficiente.
A condição necessária está nas mãos da pessoa: socorrer-se dos meios virtuosos da vida ativa. Ser uma alma perfeita, pois..
A condição suficiente, no entanto, está nas mãos de Deus: a graça de contemplar, que Ele concede a uma alma perfeita, mesmo que esta ainda habite o corpo mortal.
Portanto, eis a chave:
Na vida ativa, fazer tudo o que está ao nosso alcance para nos tornarmos perfeitos.
Na vida contemplativa, esperar, a graça da contemplação, que Deus concede de modo insondável:
a) a uns, mesmo em meio a uma vida dissoluta, como marco de conversão, como chamamento.
b) a outros, já virtuosos, somente ao final da vida, como prêmio a uma vida de dedicação ao bem.
c) a outros ainda, igualmente bons, somente na outra vida.
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