Ditos e Escritos V - A psiquiatrização do delito

O início da abordagem psiquiátrica do crime surgiu após uma série de casos intrigantes de crimes aparentemente sem sentido, no séc. XIX. Não que a loucura não fosse considerada antes disto, como causa de exclusão de culpa ou de pena. A mudança se dá no modo de compreender esta loucura.

Antes deste momento histórico, o louco era visto pela demência já consolidada ou pela fúria repentina. Mas nenhum destes tipos enquadra a mãe que do nada mata a filha e cozinha sua perna na sopa, o rapaz que entra numa casa e mata um desconhecido, o calmo senhor que um dia se atira sobre a filha de sua patroa com marteladas, e outros tais.

Com base nisto, Foucault efetua algumas observações.

Primeiro, são crimes não acompanhados, precedidos ou sucedidos pelos sintomas clássicos da loucuras: a demência ou a fúria.

Segundo, são sempre crimes gravíssimos.

Terceiro, são crimes domésticos, na família ou na redondeza.

Quarto, todos ocorreram sem razão, sem interesse, paixão, motivo, embora movidos por alguma ilusão delirante.


O que chama a atenção de Foucault é: por que médicos passam a reivindicar como loucos pessoas que até então se considerariam simples criminosos, e ponto?

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