A lepra era considerada o grande
mal na Idade Média. Seu portador era atirado ao degredo, ao isolamento, e sofria
atrozmente a sua desagregação a olhos vistos. Para uma civilização de horizonte
teológico forte, era uma evidente condenação divina, e uma candente
manifestação do mal.
Ao fim da Idade Média, a lepra
desaparece consideravelmente da Europa. Leprosários são fechados, e todo aquele
imaginário popular aos poucos vai minguando. Era preciso que um novo “mal maior”
viesse a ocupar o lugar dela na vida das comunidades, nas ações das
instituições, em todos os quadrantes da cultura. A loucura foi a candidata
ideal.
Ao mesmo tempo, o poder das
realezas vai se estabelecendo. Os Estados Nacionais vão se formando.
Aquelas
instituições de segregação que eram os leprosários vão sendo controladas pelo
poder real, e sendo redirecionadas a novos fins. Novamente, a loucura aparece
como candidata ideal para ser fiscalizada e controlada por tal mecanismo
estatal.
Foucault aponta que o sumiço da
lepra não se deveu às práticas médicas da época, ainda primitivas e ineficazes,
mas a esta mesma segregação dos leprosos, bem como ao fim das Cruzadas, que
fechou o contínuo contato com o Oriente, do qual emanavam os focos da infecção.
Contudo, antes que a loucura
assumisse a supremacia da malignidade, outros personagens foram, de algum modo,
equiparados ao leproso: o pobre, o vagabundo, o presidiário e o próprio louco.
Mas, no tocante à moléstia em si,
a lepra foi substituída pela doença venérea. Contudo, não será repugnada ou
excluída de igual modo em todos os países. A loucura, esta sim, logrará esta
unicidade de compreensões e práticas, após um longo processo de ascensão.
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