Como entender o sentido e o alcance da expressão 'Revolução Copernicana', utilizada pela historiografia filosófica para se referir ao câmbio paradigmático proposto por Kant? Em que medida a filosofia transcendental inaugurada pelo filósofo de Konigsberg se assemelha à teoria heliocêntrica redescoberta e aprofundada pelo ilustre prelado italiano?
O termo Revolução Copernicana, obviamente, é uma alusão ao procedimento de
Nicolau Copernico, como o próprio Kant esclarece[1]:
Trata-se aqui de uma
semelhança com a primeira idéia de Copérnico; não podendo prosseguir na
explicação dos movimentos celestes enquanto admitia que toda a multidão de
estrelas se movia em torno do espectador, tentou se não daria melhor resultado
fazer antes girar o espectador e deixar os astros imóveis.
Na prática, isto significa deixar de subordinar o
conhecimento às condições do objeto, para inverter a perspectiva e submeter o
objeto às condições do conhecimento. Não mais tentar submeter a apreensão cognoscitiva dos fenômenos unicamente aos elementos presentes nestes, como se a mente fosse uma mera tábua de impressão da experiência objetiva, mas compreender a maneira pela qual o conhecimento é condicionado por estruturas e funções que precedem o ato ou processo do experienciar.
Ora, as condições do conhecimento estão no
sujeito. É ele quem efetivamente conhece ao entrar em contato experimental com o objeto ou fenômeno, e ao enquadrar esta apreensão empírica aos quadros de sua estrutura subjetiva, de seu aparelho gnoseológico, de sua malha cognitiva.
Logo, o conhecimento se regerá pela estrutura deste, e não o
contrário. Assim, importa à Epistemologia diagnosticar esta estrutura, desenhar-lhe a anatomia e explicar-lhe a fisiologia, para
oferecer à ciência concreta um suporte na sua investigação dos fenômenos.
Em suma, é
como se toda ciência fosse uma epistemologia aplicada, isto é, uma aplicação setorial das categorias a certos
campos da experiência, donde decorre que se há de conhecê-las antes.
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