Há noites

Há noites em que, na alma, é também noite.
Nelas, contra as janelas, eis que o vento
sopra uma angústia feroz, e, como açoite,
molha a chuva a cortina, e o pensamento

já não sabe apartar o que então foi-te
sorte ou foi-te infortúnio: o alagamento
bagunça o quarto todo, e o que custou-te
tempo, esforço e idéia, num momento,

parece ora esvair-se. Nessse instante,
lembra-te de que o tempo é movimento
de alma, cosmo e destino: o caos reinante

é o cosmo em formação, o abatimento
é a alma em mutação, e a sorte errante
é o destino em ação: florescimento.

Thiago El-Chami

Nenhum comentário: